A inflação nos Estados Unidos aumentou novamente, dessa vez atingindo 5,4% em termos anualizados para o mês de setembro, valor um pouco acima da previsão feita pelos analistas de mercado — 5,3%. O dado, divulgado pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos, ajuda a definir o rumo das decisões sobre os juros e os estímulos financeiros no país.

Para o economista Paulo Gala, mestre e doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, o número está acima, também, da inflação de agosto e reforça a importância de lembrar que uma inflação a 5% nos Estados Unidos não é um cenário comum.

“É importante repetir esse número porque as pessoas acham que é normal ter uma inflação de 5% nos Estados Unidos, mas fazia muito tempo, mais de uma década, talvez, que não se batia uma taxa de inflação tão elevada no país. O valor de 5% de inflação em dólar não é qualquer coisa, com preços de casas subindo de 15% a 20% e aluguéis subindo 20% ao ano. A situação americana de inflação está bastante difícil”, comenta.

A visão do governo federal dos Estados Unidos, divulgada na ata do Fed, prevê que haverá uma melhora para a inflação no próximo ano, reforçando que a economia não entrará em uma “espiral de inflação”.

“A boa notícia é que o core CPI, ou seja, o núcleo que exclui alimentos e energia, principalmente, caiu para 4,03% em termos anualizados. Então, isso reforça a ideia de que um pedaço grande da inflação americana é a inflação de commodities, de choque de preços ou choque de commodities. Aí vem o ponto que o Banco Central americano comenta sobre a inflação passar, afirmando que é transitória, porque ela decorre desse choque de commodities, preço de energia, de alimento, de gás e de petróleo, que teve um aumento brutal com a pandemia”, complementa o economista.

O relatório também destaca o aumento dos preços dos alimentos (1,3%) e da energia (0,9%), uma tendência constatada em diversos outros países no atual momento, segundo os dados apresentados pelo escritório de estatísticas do trabalho dos EUA.

“Lembrando que o barril do petróleo está no valor de US$ 80, que é a máxima de, praticamente, 4 a 5 anos. Em 2018, ele também chegou a tocar nos US$ 80. No auge da pandemia o barril de petróleo caiu para menos de US$ 30. Então, estamos falando de uma triplicação do preço do barril de petróleo e isso não é trivial. Essa variação de preço, juntamente com a pandemia, tem um efeito inflacionário enorme. Isso ajuda a explicar muito também a inflação brasileira com a gasolina passando a R$ 6, quase R$ 7”, disse Paulo Gala.

O economista conclui, ao final: “a inflação vem em alta nos Estados Unidos, mas o núcleo do índice reduziu um pouco. Isso pode ser uma boa notícia olhando para 2022”.