A inflação está penalizando o poder de compra dos brasileiros desde o ano passado, principalmente após o segundo semestre, quando no acumulado dos 12 meses anteriores a setembro o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 10,2% e rompeu a barreira dos dois dígitos.

Nesta quarta-feira (16) o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ajustou a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, ficando em 11,75% ao ano. A medida é vista como uma forma de tentar controlar a inflação para, progressivamente, reduzir os juros até o fim do ano.

+ Fed eleva juro e sinaliza batalha agressiva contra inflação

E como você, que está perdendo dinheiro em todos os cantos – provavelmente com um reajuste salarial que sequer cobre a inflação, tendo que gastar cada vez mais no supermercado, na conta de água, luz e nos combustíveis – pode se proteger dessa variação toda que o governo federal e o Banco Central estão tentando administrar?

Separamos alguns pontos que podem te orientar nessa guerra pelo orçamento no azul todo mês. Os especialistas ouvidos foram Rubens Moura, professor de economia da Faculdade Mackenzie Rio e Daniel Funabashi, senior partner e assessor de investimentos da iHUB Investimentos.

Orçamento zero e ordens de prioridade

Para o professor de economia da Faculdade Mackenzie Rio, Rubens Moura, as pessoas podem adotar uma ideia de “orçamento zero”, repensando as despesas básicas e essenciais para a sobrevivência. Aqui você pode, por exemplo, avaliar o local em que mora e colocar no papel a conta do aluguel, estudando se é possível encontrar outra casa mais barata, mais próxima do trabalho – ou, até mesmo, renegociar o contrato de locação. Lembre-se: pechinchar e pedir pode salvar dinheiro no fim do mês.

Otimizar o gasto de energia com eletrodomésticos que economizem mais o consumo, pode ser mais um aliado nessa contenção de gastos. Equipamentos com Selo Procel A tendem a gastar menos, bem como lâmpadas com LED.

Além disso, a alimentação também pode passar por cortes que não sejam fundamentais. Um suco mais caro, a cerveja no fim de semana e o refrigerante no jantar entrariam nessa equação de repadronizações.

Cozinhando em casa ou comendo fora?

E a pergunta que você pode estar se fazendo agora é essa: é mais aconselhável comer em um restaurante no bairro ou cozinhar a própria comida? O economista do Mackenzie acredita que se alimentar em casa seja, naturalmente, mais barato, porém você pode avaliar se está perdendo muito tempo na preparação deste alimento – além de gastar mais do seu tempo diário, você vai gastar mais com o gás. A lógica do “tempo é dinheiro”, é perfeita neste exemplo, e você pode usar este tempo na cozinha para, inclusive, fazer dinheiro com outras atividades, seja produzindo riqueza ou gerando conhecimento.

Não sabe cozinhar? Pesquise o melhor custo-benefício na sua região ou aprenda a cuidar da sua própria alimentação.

E se você optar por seguir com as refeições em casa, uma dica também é se reunir com um grupo de amigos e, juntos, fazerem as compras em atacadistas, espaços em que é possível comprar mais, pagando menos. Agora, é importante não adotar uma mentalidade de estoque, comprando muito alimento sem necessidade. Compre conforme a necessidade vai chegando.

“Quando você diminui e altera sua cesta de consumo, dá uma sensação de fracasso para as pessoas, às vezes. ‘Poxa, vou ter que tirar meu filho de uma escola que eu gostaria que ele estudasse, vou ter que sair dessa casa que eu acho tão boa’, mas é aquela história: você pode estar vivendo uma vida que, infelizmente, não está de acordo com a sua restrição orçamentária”, comentou.

Combustíveis nas alturas? Dê um olá para o transporte público e para o Uber

Cada vez mais caro para manter no Brasil, o carro já é um produto “dispensável” dentro da lista de prioridades. Não bastasse a gasolina e o diesel mais caros, você ainda precisa se lembrar dos custos de manutenção do automóvel, bem como toda a carga tributária que envolvem os custos fixos de um veículo anualmente.

Ainda que o Uber e transportes por aplicativo estejam aumentando, aliar o seu deslocamento pela cidade em conjunto com o transporte público, seja ele ônibus ou metrô, pode render muita economia na comparação com os custos de um carro no fim do ano.

“Óbvio que o carro tem um benefício, um conforto, e isso é mensurável. Mas se você não liga para este conforto e para esta mobilidade, use o transporte público e o Uber que é muito mais barato”, apontou Rubens Moura.

Investimentos de médio e longo prazo

Daniel Funabashi, senior partner e assessor de investimentos da iHUB Investimentos, avalia que o aumento na taxa de juros gera impacto imediato no aumento do custo de empréstimos, financiamentos e crediários, freando o consumo das famílias. O segundo impacto disso é a desaceleração da atividade produtiva, podendo levar a redução de empregos.

Como se proteger fazendo investimentos e pensando em gerar dinheiro lá na frente? “Nesse contexto, o investidor mais conservador deve buscar acompanhar a escalada dos juros, aplicando em opções pós-fixadas, os famosos ‘percentuais do CDI’, para se beneficiar da alta da Selic. Já os investidores mais agressivos, podem buscar boas oportunidades na bolsa, buscando ações bastante descontadas, mas com bons fundamentos, que tendem a voltar a se valorizar com o fim do ciclo de alta”, orientou Funabashi.

Apesar dos papéis descontados na B3 neste momento, fazer compras fracionadas e trabalhar a sua própria tolerância para a volatilidade da bolsa devem ser alvos constantes. “Apesar da possibilidade de ganhos no médio prazo, o caminho não será um mar de rosas”, completou.

Não viver somente de uma renda e melhorar seu conhecimento

Investir na sua independência é, provavelmente, a melhor alternativa para quem faz o planejamento no médio/longo prazo. E a educação, como sempre, é o caminho mais curto para você se projetar no mercado e melhorar sua condição financeira.

“Este momento de crise é o melhor período para você se preparar, já que problemas novos surgem e demandam novas soluções. Então você tem que parar e pensar em como melhorar a oferta de mão de obra, nossa capacidade de agregar valor para o mercado”, explicou o professor do Mackenzie.