A estrutura inchada, a perda de função em algumas áreas e o constante uso político provocam uma ineficiência de R$ 4 bilhões por ano na Eletrobras. Esse é o custo extra da estatal comparado aos indicadores de companhias privadas do setor elétrico, segundo cálculos da empresa de investimentos 3G Radar (que tem como sócia a 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann). Em 15 anos, esse custo acumulou R$ 85 bilhões, diz o chefe de análise da gestora, Pedro Batista. “O montante seria suficiente para manter seis meses de energia de graça para os brasileiros.”

O cálculo da 3G compara os índices da Eletrobras (sem as distribuidoras) com duas empresas de geração privatizadas em 1999 e uma empresa de transmissão, privatizada em 2006: Engie, AES Tietê e Cteep. O resultado mostra que as empresas privadas pagaram mais impostos ao governo e dividendos aos acionistas. E ainda investiram R$ 65 bilhões no setor. A Eletrobras investiu R$ 84 bilhões, mas, nos cálculos da 3G, a empresa perdeu algo em torno de R$ 20 bilhões com a construção de empreendimentos como as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, e Belo Monte, no Xingu.

Os números são um retrato das reclamações que vêm sendo feitas pelo atual presidente da companhia, Wilson Ferreira Júnior. Para ele, no cenário atual, a Eletrobras não consegue competir com as concorrentes internacionais por causa das ineficiências incrustadas na empresa. Um dos entraves, na avaliação do executivo, são as licitações.

Por ser estatal, a empresa tem de seguir a lei de concorrência pública 8.666, o que atrasa quase todos os processos de compra de material ou serviços. “Processos rápidos, que levariam três meses, podem demorar muito mais para serem concluídos se algum concorrente questionar o resultado.”

Segundo Ferreira Júnior, que ficou 18 anos à frente da CPFL, até para a implementação de um programa de gestão que tem o objetivo de reduzir as ineficiências há dificuldades. A autorização para adotar o novo sistema ocorreu em setembro do ano passado, mas só foi contratada em junho deste ano, conta ele.

Outro problema refere-se à estrutura inchada da estatal, que é resultado dos desmandos políticos e também de mudanças nos rumos da companhia. “Quando cheguei aqui havia muitos assessores, secretárias e motoristas”, diz o presidente da estatal.

Havia casos de três secretárias por diretores, incluindo ele mesmo. Esse foi um dos primeiros trabalhos de Ferreira Júnior no comando da Eletrobras. “Fizemos uma reestruturação gerencial da companhia, onde reduzimos as posições de gerentes de 2.200 posições para 1.500. Isso vai dar uma economia de R$ 70 milhões por ano na companhia.”

Contraponto

O especialista Roberto Pereira D’Araújo, ex-funcionário de Furnas e diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), tem algumas ressalvas em relação à ineficiência da Eletrobras. Ele afirma que, ao longo dos últimos anos, ela foi perdendo funções. No passado, além das atividades atuais, ela também tinha função equivalente ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e à câmara de comercialização de energia. “Se a estatal ficou ineficiente, não é culpa dela, mas do Estado.”

O executivo destaca que a renovação forçada das concessões de usinas, no governo Dilma, destruiu valor da empresa. Na Chesf, diz ele, a receita líquida é de R$ 10 o MW. “Os preços são ridículos e precisam ser revistos. Mas não podemos prescindir de uma estatal no setor. O que vai ocorrer quando a iniciativa privada não quiser fazer um investimento, como ocorreu em 2001, no racionamento de energia?”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.