A indústria brasileira está operando 20,8% abaixo do pico registrado em junho de 2013. A produção retornou ao patamar de dezembro de 2008, época da crise financeira internacional, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, divulgados nesta quarta-feira, 3, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Em termos de patamar de produção, a indústria continua com a característica que já vem há muito tempo, operando em patamar bem distante do ponto mais elevado da série histórica”, ressaltou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Segundo Macedo, a queda de 1,8% na indústria em março ante fevereiro teve um espalhamento importante entre as atividades e as categorias de uso. O recuo nos bens de consumo duráveis chegou a 8,5%, puxado pela redução tanto na produção de automóveis quanto na fabricação de eletrodomésticos, especialmente os da linha marrom.

“Olhando mês a mês, a gente tem ainda em 2016 uma velocidade de produção maior. Mas nesse início do ano de 2017 a indústria já mostra um saldo negativo importante, quase da mesma magnitude do avanço do final de 2016”, apontou Macedo.

Nos três primeiros meses deste ano, a produção acumulou uma perda de 2,1%.”O setor industrial está com ritmo de queda, esse saldo é negativo. A média móvel trimestral volta a operar no campo negativo -0,7% em março. A indústria volta a mostrar uma redução do seu ritmo produtivo, muito em função da queda no segmento de veículos automotores”, contou o coordenador do IBGE.

Em março ante fevereiro, a queda na produção de veículos foi de 7,5%. O segmento tem peso significativo na pesquisa e influencia também outros segmentos industriais, fornecedores de matéria-prima.

De acordo com André Macedo, os fatores conjunturais que explicavam um menor dinamismo da indústria e da economia não se dissiparam. A deterioração do mercado de trabalho e o endividamento ainda elevado das famílias atrapalham uma retomada da produção.

“Os fatores que a gente vem enumerando há algum tempo não sumiram, permanecem na nossa análise. Alguns segmentos industriais têm essa característica de mostrarem certa volatilidade, a indústria automobilística tem muito essa característica nos últimos meses. Mesmo considerando que tenha algum tipo de elevação das exportações, isso é incapaz de justificar algum tipo de incremento na produção como um todo”, avaliou o pesquisador.

Macedo lembra que mesmo a melhora da confiança ainda é calcada nas expectativas para empresários e consumidores, não na avaliação sobre o momento atual, o que se traduz em números ainda desfavoráveis para bens de capital e bens de consumo duráveis.

Trimestres

A produção industrial brasileira avançou 0,7% na passagem do quarto trimestre de 2016 para o primeiro trimestre de 2017, segundo o IBGE.

“Como a alta de dezembro foi muito forte, há uma mudança no patamar de produção e também um carregamento estatístico que ajuda o resultado do primeiro trimestre a ficar positivo”, afirmou Macedo.

O resultado do primeiro trimestre deste ano comparado ao quarto trimestre de 2016 veio igual ao piso das estimativas captadas pelo Projeções Broadcast. No levantamento com 28 departamentos de análise, as previsões iam de expansão de 0,70% a 1,70%. Com base nesse intervalo, a mediana apontava alta de 1,30%.

A produção de bens intermediários cresceu 1,3% no primeiro trimestre de 2017 ante o quarto trimestre do ano passado. No mesmo período, a fabricação de bens de consumo duráveis cresceu 1,0%, enquanto a de bens de consumo semiduráveis e não duráveis aumentou 3,4%.

Único resultado negativo, a produção de bens de capital recuou 2,8% no primeiro trimestre de 2017 ante o quarto trimestre de 2016.

Rompimento

O avanço de 0,6% na produção industrial brasileira no primeiro trimestre ante o mesmo período do ano anterior interrompeu uma sequência de 11 trimestres consecutivos de quedas. Apesar da sinalização positiva, o movimento não altera o comportamento negativo da indústria neste início de 2017, avaliou Macedo.

“O primeiro trimestre de 2017 tem dois dias úteis a mais do que o primeiro trimestre de 2016. E tem a base de comparação depreciada, que exerce também uma influência importante para identificar esse comportamento positivo”, disse Macedo.

O pesquisador lembrou que a indústria recuara 11,5% no primeiro trimestre de 2016 ante o mesmo trimestre de 2015, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física.

“Claro que é uma sinalização positiva, mas não se pode olhar esse número isoladamente, tem que olhar outras comparações. E as demais comparações dizem que a característica presente no setor industrial não é de trajetória crescente na produção, na medida em que vem mostrando nesse início de 2017 um comportamento predominantemente negativo”, apontou o coordenador do IBGE.

O avanço de 1,1% em março ante o mesmo mês do ano anterior também foi impulsionado por um dia útil a mais e uma base de comparação fraca. Em março de 2016, a produção tinha registrado uma queda de 11,4% ante março de 2015.

Eliminando o efeito sazonal e o impacto de um dia útil a mais em março deste ano, a produção sairia de um avanço de 1,1% para uma queda de 1,2%, calculou Macedo.