o governo dos Estados Unidos anunciou que é favorável à suspensão das patentes das vacinas contra a covid-19 e a Europa respondeu que aceita conversar sobre a ideia, que seria um fato excepcional no momento em que os países pobres precisam desesperadamente de doses, como por exemplo a Índia, que registrou um recorde de quase 4.000 mortes em 24 horas nesta quinta-feira (6).

Os números do ministério da Saúde indiano contabilizam 3.980 óbitos e 412.262 novos casos em apenas um dia, o que eleva a 230.168 o número de vítimas fatais e a 21,1 milhões as infecções registradas na Índia desde o início da pandemia.

Os hospitais do país de 1,3 bilhão de habitantes estão saturados, com falta de oxigênio, medicamentos e leitos, apesar da ajuda internacional.

O governo do primeiro-ministro Narendra Modi se nega a decretar um confinamento generalizado, mas várias regiões, incluindo a capital Nova Délhi, optaram por confinar a população.

De acordo com especialistas, o pior ainda está para acontecer e o pico epidêmico deve ser alcançado dentro de algumas semanas.

“Uma terceira onda é inevitável, dado os elevados níveis atuais”, advertiu K. Vijay Raghavan, principal conselheiro científico do governo indiano.

Na quarta-feira, a representante comercial dos Estados Unidos, Katherine Tai, considerou que “trata-se de uma crise sanitária mundial e as circunstâncias extraordinárias da pandemia de covid-19 exigem medidas extraordinárias”.

“A administração acredita firmemente na proteção da propriedade intelectual, mas para deter esta pandemia apoia a suspensão das patentes”, completou.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, celebrou no Twitter a “decisão histórica” e nesta quinta a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a UE está pronta para conversar sobre qualquer proposta que responda à crise de forma efetiva e pragmática”.

Pouco depois, o presidente francês Emmanuel Macron e a chanceler alemã Angela Merkel também se mostraram favoráveis a conversar sobre o tema.

– Grandes farmacêuticas descontentes –

Em todo o mundo, a pandemia matou mais de 3,2 milhões de pessoas desde o fim de 2019, de acordo com dados compilados pela AFP. Mais de 155 milhões de pessoas foram infectadas.

No momento, as patentes estão principalmente nas mãos dos laboratórios americanos, que em geral são contrários à eliminação da propriedade porque, alegam, isto os privaria de recursos para financiar suas inovações muito caras.

Johnson & Johnson, Pfizer e Moderna não reagiram ao anúncio americano, mas a Federação Internacional de Fabricantes e Associações Farmacêuticas (IFPMA) afirmou que é “decepcionante”.

“Concordamos totalmente com o objetivo de fazer com que as vacinas contra a covid-19 sejam distribuídas de forma rápida e equitativa em todo o mundo. Mas como dissemos consistentemente, a suspensão é a resposta simples, mas errada, para um problema complexo”, afirmou o grupo.

Stephen Ubl, presidente da federação americana do setor (PhRMA), declarou que a decisão pode “enfraquecer ainda mais as já tensas redes de abastecimento e estimular a proliferação de vacinas falsas”.

– Hospitais lotado nas Américas –

Na semana passada, 40% das mortes por covid-19 no mundo ocorreram na região das Américas, onde há mais países do que nunca relatando mais de 1.000 casos diários, afirmou Carissa Etienne, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

“Os hospitais da região estão perigosamente cheios”, advertiu.

A Opas realizou um estudo em 16 países e estabeleceu que, em março de 2020, havia um total de 61.406 leitos em unidades de terapia intensiva, com uma ocupação média de 61%.

Já em abril deste ano, o total havia aumentado para 121 mil, com 80% dessas novas vagas ocupadas.

A Argentina registrou na quarta-feira 633 mortes, o maior número de óbitos por covid-19 em um único dia desde que a pandemia começou, elevando o total de falecimentos a 65.865, informou o ministério da Saúde.

A taxa de mortalidade é de 1.422 por milhão de habitantes na Argentina. Na América Latina, ocupa o quarto lugar no total de mortes e o sexto no índice por milhão, segundo cifras da AFP com base em informes oficiais de cada país.

– Vacinas para os atletas –

A distância aumenta entre os países mais pobres e os mais ricos, onde as campanhas de vacinação – que nos Estados Unidos deve ser ampliada em breve aos adolescentes – permitem a flexibilização das restrições.

Covax, o sistema para entrega de vacinas aos países com menos recursos, entregou 49 milhões de doses a 121 países e territórios, muito longe da meta de dois bilhões para 2021.

Os ministros das Relações Exteriores do G7 (Estados Unidos, Japão, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido e Itália), que se reuniram esta semana em Londres, prometeram apoio financeiro ao Covax, “para permitir uma mobilização rápida e equitativa” das doses, mas não anunciaram nenhuma ajuda adicional.

Os laboratórios Pfizer e BioNTech anunciaram nesta quinta-feira que alcançaram um acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI) para fornecer vacinas contra a covid-19 aos atletas e membros das delegações participantes nos Jogos Olímpicos de Tóquio em julho.

As empresas anunciaram que devem estabelecer uma “coordenação com os comitês olímpicos nacionais em todo o mundo” e as primeiras entregas de vacinas começarão no fim de maio.

O COI não tornou a vacinação obrigatória, mas a recomenda a todos os participantes dos Jogos.

Nas Filipinas, o presidente Rodrigo Duterte ordenou que a polícia prenda as pessoas que não usam a máscara de maneira correta, inclusive aquelas que deixam a peça debaixo do nariz, em um momento de aumento de casos no país.