Neste sábado (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra, mas há poucos motivos para comemorar. A avaliação é de Jandaraci Araújo, co-fundadora do Conselheira 101 – programa de incentivo à presença de mulheres negras em conselhos de administração. “Hoje estamos falando mais sobre o assunto e pautando mais essas questões, mas na prática vemos refletir pouco esse discurso e não como deveriam”, avalia.

Os trabalhadores negros se concentram nos cargos mais baixos nas companhias e poucos alcançam lugar de destaque dentro dos conselhos de administração. E pior do que ter poucos representantes, estudo mostra que a participação de executivos negros no conselho de administração das companhias caiu de 6,6% no Índice de Equidade Racial Empresarial (IERE) do ano passado para 4,1% no IERE-2021.

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Se a situação como um todo é difícil, as mulheres negras ainda amargam situação mais delicada. Foi de olho neste cenário que, em meio à pandemia da Covid-19, no ano passado, Jandaraci criou o programa para fomentar inserção de mulheres negras nos conselhos de administração.

Jandaraci, que foi Subsecretária de Empreendedorismo, Pequenas e Médias Empresas do Estado de São Paulo e ex-Diretora-executiva do Banco do Povo, diz que o objetivo é formar e orientar mulheres para ocuparem essas posições.

A primeira turma, com 20 mulheres, foi formada ano passado e cerca de 40% delas já ocupam cargos no conselho de administração. “Agora, no fim deste ano, vamos formar mais um grupo e temos a previsão de iniciar outro no início do ano que vem”, revela.

Ela destaca ainda que uma mulher negra ganha 60% menos do que um homem branco na mesma posição. “Isso impacta na perspectiva de inclusão sócio econômico, mas também na qualificação.”

Para ela é fundamental ter oportunidades. “Foi vendendo salgados que consegui minha primeira oportunidade. Um professor, que sempre comprava comigo, um dia perguntou sobre minha história e conversamos. No dia seguinte, ele me deu seu cartão e pediu que procurasse uma de suas gerentes. Cinco dias depois, comecei a trabalhar em uma das maiores redes do varejo. Anos depois soube que a vaga não existia. Fiz minha carreira lá. Fui transferida para São Paulo em 2003. Trabalhei durante muito tempo nessa empresa e segui minha carreira no varejo”, conta.

Hoje, ela é conselheira emérita do Capitalismo Consciente Brasil, palestrante, professora de finanças corporativas de pós-graduação e consultora.