Como será trabalhar na fábrica de um megalomaníaco bilionário cujo talento para inovações se equipara a sua facilidade em criar polêmicas nas redes sociais? Os funcionários de Elon Musk – o empresário que Robert Downey Jr. se inspirou para compor a personalidade do Homem de Ferro -, respondem: intenso.

A Business Insider foi em busca de relatos dos funcionários da Gigafactory, a unidade de produção das baterias e motores elétricos dos veículos da Tesla. O espaço, construído há dois anos no estado de Nevada, é tão grandioso quanto qualquer outra coisa que envolva o nome de Musk.

Estrutura faraônica, mas sem banheiros

A estrutura, de 1,47 milhões de metros quadrados divididos em três andares, abriga mais de 2,5 mil funcionários. Trabalhar em um ambiente com tamanha magnitude tem as suas dificuldades. Ironicamente, uma das maiores reclamações é a falta de espaço para todos, mesmo em um ambiente tão gigantesco.

Uma vez, segundo um funcionário, o banheiro estava tão cheio que uma pessoas simplesmente colocou um monte de papel higiênico no chão e se aliviou ali mesmo.

A falta de lugar para as pessoas morarem também foi uma reclamação constante. Caso o funcionário não seja da região, a Tesla o coloca em um alojamento provisório ou em um hotel. Porém, com o crescente número de pessoas indo trabalhar no local, ficou cada vez mais difícil encontrar um lugar decente e acessível para morar.

“A casa mais barata que encontramos era a 24 quilômetros de distância, e pagávamos US$ 1,2 mil por mês”, relatou um dos funcionários. “Têm pessoas que preferem morar em seus carros ou em pequenos trailers nas paradas de descanso. Algumas dormem no estacionamento da Tesla para economizar”.

O número considerável de funcionários cria um engarrafamento entre os horários de entrada e saída do expediente. As filas são tão longas que ao invés de apresentar os crachás corretamente nas máquinas de acesso, muitos funcionários apenas os mostram para os seguranças. Conseguir uma vaga no estacionamento também é um desafio diário aos trabalhadores da Gigafactory.

Improvisação e mudanças repentinas

O ritmo de produção é tão indefinido que alguém que esteja passando pelo processo de recrutamento  pode ser jogado direto na linha de montagem depois de poucos minutos de treinamento. O trabalho não é nada muito complexo, admite um ex-funcionário.

“Era algo literalmente ‘aqui, faça isso’ e então, basicamente, ‘fique aí por 12 horas e faça isso’”, explicou um outro funcionário que havia sido sumariamente transferido de sua área de atuação para outra frente de trabalho.

Essas mudanças repentinas de cargos poderiam durar por dias, disse o funcionário. O turno se dividia em quatro dias de trabalho e quatro de folga. Depois, três dias de trabalho e três de folga. Muitos trabalhadores da Gigafactory disseram que o objetivo é transformar as metras em produção.

“Eu provavelmente trabalho 70 horas por semana, e eu não gostaria de mudar isso”, disse George Stewart, líder de produção de baterias. Stewart disse preferir que a equipe que ele gerencia “trabalhe um dia extra e chegue há 50 horas por semana”. Mas ele disse que não há consequências para quem não fazer.

“Culto a Elon”

Embora o CEO da Tesla, Elon Musk, possa ser encontrado com frequência na sede da empresa em Fremont, na Califórnia, ele visita regularmente a Gigafactory.

Como em Fremont, há funcionários em Nevada que estão impressionados com ele. Algumas pessoas chamam isso de “o culto de Elon”. Essas pessoas acreditam fervorosamente que Musk está ajudando a salvar o mundo. Seja através de seu trabalho com veículos elétricos, energia solar e sua outra empresa, a SpaceX.

Para alguns, toda vez que ele visita a fábrica é como se os Beatles tivessem chegado à Nova York em 1964 mais uma vez. Para outros, uma visita de Musk é um momento de pânico, para garantir que tudo esteja no lugar correto e funcionando da forma que ele deseja.

Mas uma coisa que todos concordam é que a Gigafactory, como o resto da Tesla, se move rapidamente. “Desconfie que qualquer coisa possa mudar a qualquer momento”, disse um ex-funcionário que foi pego na última rodada de demissões. “E que as coisas prometidas às vezes não acontecem por algum tempo, ou simplesmente não acontecem”.