A Precisa Medicamentos, responsável pela importação da vacina indiana Covaxin, contrariou a versão apresentada pelo ministro da Secretaria Geral da República, Onyx Lorenzoni, sobre a compra do imunizante. Em entrevista ao jornal O Globo, a empresa afirmou que enviou três propostas ao governo para fechar acordo com o Ministério da Saúde. Nas duas primeiras constavam o que classificaram como erros (o pedido antecipado…), e, por isso, foi necessário ajustar as versões enviadas anteriormente e enviar uma terceira proposta.

A declaração coincide com as denúncias apresentadas pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), a quem Lorenzoni acusa de fraude. O ministro afirma que o governo recebeu apenas duas propostas para compra da vacina e pediu à Polícia Federal que investigasse o parlamentar e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, pela suposta adulteração da proposta de compra da vacina. Ex-secretário Executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco corrobora a versão de apenas duas propostas e diz que o documento apresentado por Miranda é diferente do recebido pelo governo.

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De acordo com Miranda, seriam três versões enviadas à negociação. A primeira conteria 300 mil unidades por US$ 45 milhões e pagamento antecipado, enviado em 18 de março. Na segunda seriam 3 milhões de unidades e pagamento antecipado, em 19 de março. A terceira proposta seria a segunda, mas sem necessidade de pagamento antecipado. Os irmãos Miranda encontraram-se com o presidente Jair Bolsonaro em 20 de março, quando teria sido apresentada a primeira versão do documento.

Em coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira (23), Onyx Lorenzoni exibiu a primeira versão do documento para argumentar que seria diferente do documento apresentado por Miranda, que seria a terceira proposta de compra. O deputado federal rebateu as acusações e afirmou que “o ministro está desesperado”.

O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, Randolfe Rodrigues, pediu proteção policial aos irmãos que denunciaram o governo por irregularidades na compra da Covaxin. O presidente Bolsonaro atuou pessoalmente nas tratativas para incorporar a vacina indiana ao Programa Nacional de Imunização (PNI), ignorando negociações mais avançadas, como as com a Pfizer e CoronaVac.

O contrato para compra de 20 milhões de doses da Covaxin foi firmado em 25 de fevereiro por RS$ 1,614 bilhão, com aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda pendente devido à inconclusão da fase 3 de estudos clínicos. Em entrevista à CNN na última quarta (23), Miranda diz que seu irmão foi pressionado pelo governo a liberar a importação do imunizante com celeridade, inclusive aos finais de semana.

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, declarou que “questões nebulosas” que envolvem a aquisição da vacina precisam ser esclarecidas. As doses foram negociadas por US$ 15, mais caro que a rejeitada Pfizer, que negociava cada dose a US$ 10.

Em nota divulgada em suas redes sociais, a Precisa Medicamentos nega qualquer irregularidade na transação comercial.