Pesquisadores conseguiram aliviar a depressão severa de uma paciente usando implante eletrônico no cérebro que atua como um “marca-passo” neural, reiniciando os circuitos cerebrais associados aos sentimentos negativos, informa o jornal americano Financial Times.

A equipe da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), citada pelo jornal, afirma que o estudo é “um marco no esforço científico para tratar distúrbios psiquiátricos por meio de uma eletrônica neural cuidadosamente direcionada”. Os resultados da pesquisa foram publicados nesta segunda, 4, na revista científica Nature Medicine.

+ Testes ajudam a escolher remédio para depressão

“Nós desenvolvemos uma abordagem da medicina de precisão capaz de administrar com sucesso a depressão resistente ao tratamento de nossa paciente, identificando e modulando o circuito em seu cérebro que está exclusivamente associado a seus sintomas”, afirma o pesquisador Andrew Krystal, um dos autores do estudo, citado pelo Financial Times.

Em conversa com o jornal americano, a paciente de 36 anos, que pediu para ser chamada de Sarah, diz que o implante transformou sua vida após sofrer durante cinco anos com forte depressão que não respondia a nenhuma medicação ou terapia eletroconvulsiva. “Eu me sentia torturada por pensamentos suicidas todos os dias. Eu estava no meu limite”, completa a paciente.

Quase imediatamente após o implante ser colocado no cérebro, Sarah sentiu um alívio, que já dura um ano. Quando ele detecta atividade neural associada a pensamentos irracionais, que anteriormente desencadeavam obsessões depressivas, eletrodos emitem um pulso elétrico corretivo curto, que interrompe a sensação ruim, explica o Financial Times.

Antes do estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco, o uso da neuroeletrônica para tratar depressão esbarrava na falta de conhecimento dos cientistas sobre os circuitos cerebrais associados à doença.

A principal descoberta da equipe foi um “biomarcador” que indica o início dos sintomas depressivos, um padrão específico de atividade neural na parte do cérebro chamada amígdala e que lida com respostas a ameaças, diz o periódico.

O dispositivo usado na paciente Sarah foi adaptado de um normalmente associado ao tratamento da epilepsia. Quando ele detecta o biomarcador na amígdala, envia minúsculos pulsos elétricos para outra área, o estriado ventral, que faz parte do sistema de recompensa e prazer do cérebro. Isso elimina imediatamente os indesejáveis pensamentos negativos.

“Colocar implante sob o crânio com eletrodos que se estendem profundamente no cérebro é um procedimento caro, invasivo e potencialmente arriscado. Assim que os detalhes dos circuitos cerebrais subjacentes à depressão forem melhor compreendidos, esperamos encontrar biomarcadores não invasivos que possam ser usados”, afirma a pesquisadora Katherine Scangos, uma das autoras do estudo, citada pelo Financial Times.