No fim dos anos 1990, quando surgiram as primeiras companhias dedicadas a uma então novidade chamada internet, a maneira de diferenciá-las das empresas tradicionais era frisando a dualidade entre os modernos cliques e os arcaicos tijolos, melhor símbolo da velha economia. A mesma comparação pode ser aplicada às criptomoedas, como bitcoin. No entanto, aos poucos, a distância entre esses dois universos está diminuindo. A empresa de criptoativos Dynasty AG, fundada por brasileiros e com sede na Suíça, lançou uma moeda virtual que remunera os investidores com base em um investimento bastante tradicional, o aluguel de lajes corporativas de alto padrão. Denominada D¥N, a moeda é um contrato inteligente, que vincula a rentabilidade das locações ao retorno para os investidores. No fim de junho, a Dynasty investiu R$ 27,7 milhões em um andar inteiro de um prédio corporativo. A localização? Avenida Faria Lima, quarteirão financeiro de São Paulo, endereço onde os escritórios não ficam vazios por muito tempo. A aquisição, de mais 1 mil m2, foi a primeira, mas não será a última. “Estamos procurando outros imóveis em Londres, Nova York, Paris e Cingapura”, disse o co-fundador e CEO da Dynasty, Eduardo Carvalho. “Como a demanda nesses locais é permanente, o risco de inadimplência é menor.”

A compra foi paga com recursos captados na emissão da criptomoeda. Segundo Carvalho, foram criadas 21 milhões de unidades da D¥N. No início deste ano, 110 mil delas foram vendidas a investidores, pelo preço médio de 66,16 francos suíços (R$ 384) cada. “Os compradores foram, principalmente, investidores brasileiros com recursos fora do País e family offices, mas já estamos sendo procurados por alguns fundos de cripoativos”, disse Carvalho. Com os R$ 42 milhões captados com a primeira venda foi possível adquirir o imóvel, que deverá começar a render aluguéis ainda neste ano.

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“O potencial das criptomoedas de transformar o mercado imobiliário é imenso” Eduardo Carvalho, CEO da Dynasty AG.

Para proporcionar rentabilidade aos possuidores das criptomoedas, a Dynasty vai utilizar os recursos para recomprar os tokens e cancelá-los. Denominado “buy & burn”, algo como “comprar para queimar”, o procedimento visa elevar os preços pela redução forçada do estoque das moedas. O executivo afirmou que as compras não serão em proporções tão grandes que levariam ao cancelamento de todas as unidades, e que as grandes possibilidades de subdivisão permitem que sempre haja algumas unidades em circulação. “A D¥N possui 16 casas decimais, ante oito da bitcoin”, afirmou.

INOVAÇÃO Segundo o especialista em imobiliário dos Estgafdos Unidos, Riz Dhanji, da mesma forma que o dinheiro físico foi transformado em zeros e uns, os ativos imobiliários podem se tornar ativos digitais ou “tokens”. Isso possibilita uma flexibilidade que, atualmente, é difícil de colocar em prática. Por exemplo, em propriedades compartilhadas. “A ‘tokenização’ permite que cada indivíduo pague apenas pelas despesas correspondentes à sua parte naquele ativo”, afirmou Dhanji.

Para ele, as criptomoedas são um elemento tecnológico que permite digitalizar as transações imobiliárias. Isso reduz o risco de fraudes e a necessidade de tantos intermediários, como corretores, advogados e cartórios, que acabam encarecendo as transações. “A gestão das propriedades vai se tornar mais inteligente e essa inteligência será traduzida em custos menores”, disse.

O uso de tecnologia, segundo ele, também vai tornar esses investimentos mais acessíveis. Atualmente, um brasileiro pode investir em imóveis fora do País por meio de instrumentos financeiros lastreados em ativos imobiliários. Porém, os custos de transação com a remessa de recursos são elevados, a prestação de contas com o Fisco é trabalhosa e a rentabilidade é reduzida devido à grande quantidade de intermediários. Por meio da tecnologia blockchain, é possível gerar um contrato inteligente lastreado por uma torre de alto padrão em Nova York ou Dubai e usufruir dos rendimentos com um custo operacional baixo e liquidez elevada. “O potencial das criptomoedas de transformar o mercado imobiliário é imenso”, disse Carvalho.