A simbiose entre os setores imobiliário e financeiro está aumentando com a transformação digital. O movimento abriu novas possibilidades de oferta de crédito, seguro e outros produtos dentro das plataformas de compra, venda e locação de imóveis. O estreitamento dos laços está em alta, como indicam transações recentes. A Loft comprou três fintechs – CrediHome, CredPago e InvesteMais – enquanto o QuintoAndar fez a aquisição da uma outra, a Atta.

Os bancos tradicionais também estão no jogo. O Santander fechou nesta semana a compra do marketplace imobiliário Apê11. A Lopes e a Brasil Brokers reforçaram apostas em subsidiárias que funcionam como fintechs e já respondem por metade de suas receitas. E a incorporadora Cyrela está ampliando a CashMe, que oferece linhas de crédito não exploradas pelos grandes bancos.

“Existe um movimento de ‘fintequização’ de várias operações: com as empresas de várias áreas oferecendo serviços financeiros”, diz o presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Diego Perez. “A ideia é que o consumidor possa comprar o bem e acessar o produto financeiro em um só lugar.” No setor imobiliário, essa interação faz sentido porque a relação envolve bens de alto valor que geralmente demandam financiamento.

As fintechs adquiridas pela Loft, por exemplo, oferecem financiamento e opções de aluguel sem fiador – o que complementa a atividade principal de compra, venda e aluguel.

O Apê11, comprado pelo Santander, usa análise de dados e inteligência artificial para conectar vendedores a compradores de imóveis, servindo de “isca” para produtos bancários. “A imobiliária funciona como um originador de clientes para os serviços financeiros”, diz Bruno Loreto, sócio da Terracotta Ventures, especializada em startups imobiliárias.

A Terrecota é sócia da EmCasa, rival da Loft e do QuintoAndar. A próxima aposta do grupo será em uma “fintech pura” do ramo imobiliário. “Estamos em negociação para entrar em uma empresa de home equity (crédito pessoal com imóvel como garantia). Esperamos anunciar em breve”, diz Loreto.

Dentro de casa

A imobiliária Lopes foi pioneira no setor financeiro. Em 2007, fundou a CrediPronto, parceria com o Itaú para concessão de crédito imobiliário que hoje tem uma carteira de R$ 10 bilhões. A Lopes recebe comissão por cliente encaminhado para o financiamento, além de parte do lucro gerado pela carteira. Hoje, 47% de sua receita consolidada vêm da CrediPronto. “É a menina dos olhos da companhia”, afirma Matheus Fabricio, diretor de relações com investidores da Lopes.

A Brasil Brokers montou operação semelhante. Em 2017, a empresa criou a subsidiária CrediMorar, que assume a burocracia e deixa tudo pronto para o comprador de imóvel assinar contrato de financiamento com o banco. O Bradesco é o principal parceiro, mas Santander e Itaú também participam.

A Brasil Brokers ganha uma comissão por contrato fechado, o que já representa uma bolada no seu balanço. A CrediMorar gera cerca de R$ 10 milhões por mês em receita, cerca de metade do faturamento consolidado da imobiliária.

Já a Cyrela apostou em uma operação totalmente nova, sem dependência de seus clientes para gerar novos negócios. Fundada há três anos, a CashMe concede empréstimos para negócios imobiliários pouco ou nada atendidos pelos bancos. Entram aí, por exemplo, home equity, crédito para construção e linha para aquisição de painéis solares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.