Apesar do hexacampeonato não vir, devido à derrota do Brasil nas quartas de final contra a Bélgica, a Copa do Mundo na Rússia poderia ter sido um momento de afirmação para Neymar. Aos 26 anos, o craque brasileiro chegou como uma das três principais estrelas do torneio, ao lado do argentino Lionel Messi e do português Cristiano Ronaldo. Antes das semifinais, foi o jogador que mais chutou ao gol, driblou e sofreu faltas. Mas acabou ficando marcado pelas simulações e virou motivo de chacota em todo o mundo. Rapidamente, uma brincadeira, batizada Neymar Challenge (o desafio do Neymar), se espalhou pela internet. A piada se traduz em vídeos em que alguém grita o nome do atacante e todos se jogam no chão, rolam e se contorcem. Cãezinhos, crianças indianas em aula de educação física e apresentadores de tevê mexicanos entraram na brincadeira. Ou seja, um embaraço total para a marca do jogador e de seus patrocinadores.

O atleta pode reverter isso a seu favor e das empresas que o apoiam financeiramente? O craque brasileiro foi garoto-propaganda de diversas companhias durante a Copa do Mundo, incluindo a cerveja Proibida, a empresa de cartões Mastercard, a fabricante de televisores TCL, a Café Pilão, a operadora aérea Gol e a rede de lanchonetes McDonald’s. A última empresa afirmou por nota que o craque “cumpriu de maneira responsável e incontestável todos os acordos comerciais estabelecidos, contribuindo assim para o sucesso da campanha na Copa do Mundo”. É inegável que Neymar é um grande jogador, dos melhores que o Brasil produziu nas últimas décadas. E a catimba e a encenação fazem parte do jogo.

Mesmo países como a Inglaterra, que assumem uma postura contra as tentativas de ludibriar os árbitros, utilizaram esses expedientes em certos momentos da Copa. O problema com Neymar foi o grau. Ele já tinha a fama de cai-cai, que piorou com encenações constantes, demonstrações exageradas de dor e uma já famosa rolada na lateral do campo, com sete voltas, contra a Sérvia. Apesar do excesso de faltas sofridas, várias delas violentas, Neymar passou 15 minutos da Copa no chão. Até o instituto de emergências médicas de Portugal usou a sua foto caído como alerta contra falsos pedidos de socorro. Ainda sobraram críticas à falta de declarações após a derrota, a não comunicação com os torcedores que estavam na Rússia e ao fato de ter levado ao torneio seus melhores amigos, os chamados “parças”, que teriam criado um ambiente distante da realidade.

Humor com o craque: as quedas do jogador brasileiro fizeram as piadas com ele viralizarem. A imprensa internacional brincou com o camisa 10 da seleção, o seu nome foi usado como sinônimo para cair e um designer de Curitiba, Luciano Jacob, criou um alfabeto com as suas imagens no chão

Com rendimentos de US$ 90 milhões em salários, bônus e publicidade, Neymar é o quinto atleta mais bem pago do mundo. Também foi protagonista da maior transação do futebol ao trocar, em 2017, o Barcelona pelo Paris Saint-Germain, por € 222 milhões (R$ 810 milhões). A título de comparação, o melhor jogador do mundo pelas últimas duas temporadas, Cristiano Ronaldo, acaba de deixar, aos 33 anos, o Real Madrid pela Juventus, por € 100 milhões. O português, aliás, pode servir de exemplo para o brasileiro. Ronaldo já foi muito criticado por ser vaidoso e não render em momentos decisivos. Isso mudou nos últimos anos, depois de ajudar a pouca tradicional seleção portuguesa a ganhar a Eurocopa de 2016. Recentemente, ainda surgiram relatos de que ele ajudaria diversas instituições de caridade e sobre a sua infância pobre. Até a sua mãe contou que quase realizou um aborto quando estava grávida. Ronaldo também foi visto parando o ônibus de sua seleção para atender um garoto que queria conhecê-lo. Tudo isso ajudou o jogador a melhorar sua imagem e a conquistar mais fãs.

Segundo Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM, a situação de Neymar é reversível. A primeira ação do time que cuida de sua carreira deve ser avaliar o tamanho do “prejuízo”. “A equipe pode sentir que não houve dano para o valor da marca, apesar de acharmos que sim. O fato de nenhuma empresa ter cancelado contrato mostra que o problema pode não ser tão sério”, diz ele. “Neymar, antes de mais nada, é um jogador de futebol. Ele precisa sair do holofote por algum tempo e jogar bem por seu clube e pela seleção.” A figura de Neymar é composta de diversos papéis: a do namorado da atriz Bruna Marquezine, a de alguém ligado à sua família, a de amigo festeiro dos seus “parças” e a do jogador de futebol. “O único que agrada a todos é o último”, afirma Martinho.

Neymar tem ainda boa comunicação, especialmente, com as crianças e jovens, um público que esquece e perdoa com mais facilidade. A rejeição ao seu estilo aumenta à medida que avança a idade do consumidor, que o considera um mau exemplo. Esses só serão conquistados com vitórias. “Marketing esportivo se faz com números. As empresas percebem que ele teve um bom desempenho esportivo e traz resultados de exposição”, diz Dayyán Morandi, CEO da LX Sports Group. Afinal, dizem os analistas, o brasileiro gosta de ganhar. Não importa muito se jogar bem ou mal e cair o tempo inteiro. Se vencer, tudo será perdoado.