Enquanto o mundo caminha rumo à economia verde, o Brasil se mantém, inabalavelmente, na contramão. O mais recente sinal do desmanche proposital da estrutura de governo dedicada à preservação da natureza foi dado pelo ministro do Meio Ambiente. Ricardo Salles estendeu por mais 120 dias os trabalhos de um grupo que, há quatro meses, desenha o plano de fusão entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Ibama.

O movimento assustou entidades como WWF-Brasil, SOS Mata Atlântica, Imaflora, Imazon, Fundação Grupo Boticário, The Nature Conservancy, Conservação Internacional e Semeia que formaram a Coalizão Pró-Unidades de Conservação (UCs), junto à Rede Pró-UCs com o objetivo de impedir a fusão.

Para Cláudio Maretti, vice-presidente da Comissão Mundial de Áreas Protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza, a fusão dos órgãos é mais um indicador do retrocesso na agenda ambiental do País. E o cenário fica ainda pior, pois acontece em ano de realização da Convenção Mundial da Diversidade Biológica (China). “Na primeira edição do evento, em 2010, o Brasil liderou a discussão da biodiversidade ao levar o trabalho do ICMBio e de outras iniciativas em prol de um desenvolvimento sustentável das áreas protegidas”, disse.

Agora, segundo o ambientalista, o Brasil retrocede no momento em que a expectativa era que liderasse um plano mais ambicioso, que aumentará para 30% a meta de proteção. “Tínhamos todas as condições para protagonizar a luta pela biodiversidade, mas estamos destruindo tudo o que conquistamos”, disse.

A meta estipulada na última Convenção previa a preservação de 17% das UCs em territórios continentais, e de 10% no ambiente marinho. O Brasil cumpriu.

Evandro Rodrigues

(Nota publicada na edição 1211 da Revista Dinheiro)