A notícia do agendamento de reunião bilateral entre americanos e chineses em outubro, aliada à perspectiva de redução dos juros nos Estados Unidos, elevou o apetite por risco nos mercados internacionais nesta quinta-feira. Em sintonia com a alta firme das bolsas americanas, o Ibovespa emendou o segundo pregão seguido de recuperação. Depois de correr até a máxima dos 103.258,48 pontos pela manhã, o principal índice da B3 perdeu um pouco do ímpeto e encerrou o dia aos 102.243,00 pontos, em alta de 1,03%, levando os ganhos na semana a 1,10%.

Entre as blue chips, o destaque foram os bancos. A ação do PN do Itaú Unibanco, papel com maior peso no índice (cerca de 9%), subiu 2,84%. As PN do Bradesco (por volta de 7% do índice) avançaram 2,45%. O Índice Financeiro (IFNC) encerrou os negócios com valorização de 2,01%, batendo com folga os outros índices setoriais. Analistas ressaltam que as ações dos bancos também apresentam um desempenho inferior ao do índice no acumulado do ano e que, portanto, havia espaço para uma alta mais forte.

Segundo o analista de ações da Ativa de Investimentos, Ilan Arbetman, os papéis dos bancos se beneficiaram do aceno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de uma possível diminuição dos depósitos compulsórios.

Em evento em Brasília, Campos Neto afirmou que o Brasil tem “um volume de compulsório alto, em torno de R$ 400 bilhões” e que, com a adoção da Assistência Financeira de Liquidez (AFL) – que prevê criação de duas novas linhas de crédito para instituições financeiras -, será possível “reduzir bastante” o nível dos compulsórios.

“Com compulsório menor, é possível elevar o crédito, o que ajuda no crescimento da economia. Isso mostra que o BC está considerando medidas expansionistas”, diz Ilan, ressaltando que Campos Neto também sinalizou que haverá mais cortes da Selic, ao dizer que a inflação está “bastante ancorada no curto, no médio e no longo prazo”.

Apesar de dados fortes de criação de vagas no setor emprego privado nos Estados Unidos em agosto (195 mil, ante expectativa de 140 mil), a perspectiva é de que o Federal Reserve promova ao menos uma nova redução da taxa de juros, após declarações em tom ‘dovish’ de dirigentes da instituição na quarta. “Afastado o risco de recessão global e com alívio na guerra comercial, uma queda dos juros nos Estados Unidos e mais estímulos pelo Banco Central Europeu tendem a beneficiar os países emergentes”, afirma Bruno Madruga, responsável pela área de renda variável da Monte Bravo.

Segundo ele, um aumento da liquidez global, conjugado com perspectiva de recuperação, embora ainda lenta, da economia brasileira nos próximos trimestres, garante a tendência de alta do Ibovespa. “Muitos ruídos podem acontecer, principalmente com o cenário externo, mas a expectativa segue positiva”, afirma Madruga, ressaltando que quedas como a observada em agosto, quando o Ibovespa desceu até a casa dos 96 mil pontos, abrem oportunidades para compra de ações. “No ziguezague do dia a dia, o Ibovespa pode perder os 100 mil pontos, mas a tendência é que o índice supere os 110 mil pontos até o fim do ano.”