A expectativa em torno de um acordo parcial entre China e Estados Unidos deu o tom aos negócios nos mercados globais nesta sexta-feira. Em sintonia com as bolsas em Nova York, o Ibovespa operou em alta firme ao longo de todo o dia e emendou o terceiro pregão seguido de valorização. Entre mínima aos 101.818,60 pontos e máxima aos 104.380,89 pontos, o principal índice da B3 fechou aos 103.831,92 pontos, em alta de 1,98%, com volume negociado de R$ 15,4 bilhões. Com recuperação nos últimos dias, o Ibovespa não apenas anulou as perdas de mais de 2% nos pregões de segunda e terça-feira como encerrou a semana com ganhos de 1,25%.

O otimismo tomou conta dos mercados ainda pela manhã, após o presidente americano, Donald Trump, afirmar, no Twitter, que “coisas boas estão acontecendo nas reuniões com a China”. À tarde, enquanto investidores aguardavam o desenlace do encontro entre Trump e o Li He, vice-primeiro-ministro chinês, com início agendado para as 15h45 (de Brasília), circularam informações extraoficiais de que as partes haviam chegado a um acordo parcial. Basicamente, a China compraria mais produtos agrícolas dos EUA em troca do adiamento da imposição de novas tarifas a mercadorias chinesas.

Na reta final dos negócios, Trump anunciou que havia chegado a um acordo “fase 1” e “muito substancial” com o gigante asiático. As negociações com a China, disse Trump, terão duas ou três fases. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, afirmou que os EUA não vão aplicar o aumento de tarifas sobre a China com início previsto para o próximo dia 15. Mas a alta tarifária prevista para 15 de dezembro continua valendo.

O estrategista da Monte Bravo, Rodrigo Franchini, observa que a alta do Ibovespa esteve atrelada principalmente ao ambiente externo benigno, embora haja também um pano de fundo doméstico favorável à recuperação do mercado. “Com um acordo parcial entre China e Estados Unidos, a aversão ao risco e a volatilidade diminuem, o que favorecer a busca de retornos em países emergentes, afirma Franchini.

Por aqui, o mercado ainda reverbera a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do projeto de lei da partilha do megaleilão de petróleo da cessão onerosa – o que diminui as tensões políticas e, por tabela, diminui os temores de aumento destas tensões e de atraso na votação final da reforma da Previdência no Senado.

Uma vez assegurada a solvência das contas públicas com a reforma do sistema de aposentadorias, espera-se que o governo se volte para medidas que alimentam a expectativa de retomada do crescimento, como a aceleração das privatizações. As seguidas revisões para baixo das projeções para a taxa Selic no fim do ano, que ganharam ainda mais força com a nova ponderação do IPCA, trazem expectativa de aceleração da atividade.

Não por acaso, a alta do Ibovespa nesta sexta-feira foi generalizada, abrangendo diversos setores, como varejistas, bancos e exportadores de commodities. Dos 68 papéis que integram a carteira teórica do Ibovespa, apenas duas ações terminaram em queda: PNB da Eletrobras caíram 2% e ON, 1,42%. Entre os índices setoriais, a liderança coube ao Índice de Materiais Básicos (3,05%), seguido pelo Índice de Consumo (1,93%).

No grupo das blue chips, Vale ON liderou os ganhos, com alta de 2,92%, seguida por o papel PN da Petrobras (+1,94). Os papéis dos principais bancos avançaram mais de 1%, com destaque para a ação ON do BB (+1,87%).

Franchini, da Monte Bravo, afirma que a conjugação de maior apetite ao risco, caso se consolide a trégua na guerra comercial sino-americana, com queda da Selic pode dar um fôlego extra ao mercado acionário no fim deste ano. “Esse cenário de juro básico de 4,5% no fim do ano é disruptivo. Se o ambiente externo permanecer positivo, podemos ver o Ibovespa superar os 105 mil pontos nas próximas semanas e começar a sonhar com 110 mil pontos no fim do ano”, diz.