A espera pela votação da admissibilidade da proposta de reforma da Previdência foi otimista no mercado acionário brasileiro neta terça-feira, 23. Apostando no avanço da matéria na CCJ da Câmara e numa melhora na capacidade de articulação do governo, o mercado manteve o Índice Bovespa em terreno positivo durante todo o pregão, para fechar em alta de 1,41%, aos 95.923,24 pontos. O cenário externo também colaborou, com os índices da bolsa de Nova York oscilando em patamares recordes, em meio a balanços corporativos positivos.

Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o mercado precificou mais o avanço da reforma do que propriamente o seu conteúdo, até porque os investidores sabem que este é apenas o primeiro passo de uma longa tramitação. “O mercado reagiu à percepção de que o governo está novamente tomando as rédeas da situação, melhorando a articulação entre os parlamentares. Isso também é importante depois do episódio da interferência na Petrobras”, afirmou o analista.

O bom humor do investidor foi alimentado desde cedo pelas informações sobre um acordo entre o governo e partidos que defendiam mudança no texto do relator da proposta na CCJ, deputado Marcelo Freitas (PSL-MG). Em entrevista coletiva no início da tarde, Freitas confirmou o acordo que o fez modificar seu texto em quatro pontos, todos eles sem impacto fiscal. “Vamos conseguir votar a reforma hoje (terça)”, prometia o relator.

A melhora da percepção de risco se refletiu em quase todas as blue chips do mercado, mas especialmente nas do chamado “kit Brasil”. Foi o caso de Banco do Brasil ON, que subiu 2,01%, e de Eletrobras ON, com ganho de 3,37%.

Já os papéis da Petrobras mostraram recuperação de perdas recentes, ajudados pela alta dos preços do petróleo, mas principalmente pela decisão da empresa de promover alteração na forma de divulgar ajustes de preços da gasolina e do diesel, passando a registrar valor por ponto de venda, e não mais pela média do mercado. Ao final dos negócios, Petrobras ON e PN subiram 0,81% e 0,87%.

Segundo Ilan Arbetman, da Ativa, a decisão da estatal foi bem recebida porque reforça sua independência, em uma nova resposta à questão da interferência de Bolsonaro. “É uma sinalização de que a empresa está voltada para o mercado, sobretudo na política de desinvestimento, para focar no seu core business”, disse Arbetman.

Ao final do pregão, a sessão na CCJ da Câmara ainda se dedicava a eventos preliminares à votação. Em um primeiro teste de apoio da base do governo na comissão, o plenário do colegiado aprovou a inversão da pauta por 45 votos a 2. Com isso, a admissibilidade da reforma passa ao primeiro lugar na pauta da CCJ.