Após queda de 1,54% no dia anterior, que o levou a quase escorregar dos 117 mil pontos, o Ibovespa teve recuperação acentuada na última hora de negócios desta quarta-feira, 22, encerrando bem perto da máxima da sessão, em alta de 1,17%, a 118.391,36 pontos, mesmo com a perda de ímpeto em Nova York. O giro financeiro totalizou R$ 22,5 bilhões, em sessão na qual o índice oscilou entre mínima de 117.035,48 e máxima de 118.400,98 pontos, atingida nos instantes finais. Na semana, a referência reduziu a perda a 0,07% e, no mês, avança 2,37%. Anteontem, o principal índice da B3 renovou máxima histórica, a 118.861,63 pontos, no fechamento – o de hoje foi o terceiro maior de que se tem registro, superado também pelo do último dia 2, então a 118.573,10 pontos.

Depois de perdas acentuadas no dia anterior, a ação da Vale fechou a quarta-feira em alta moderada, de 0,48%, enquanto a preferencial de outro peso-pesado, Petrobras, seguiu em terreno negativo (-1,11% na PN, com ON estável), em dia de forte correção nos preços do petróleo, com os contratos futuros da commodity em queda acima de 2%. Entre as componentes do Ibovespa, destaque absoluto para a Usiminas, em alta de 13,93% no fechamento, após o Bradesco BBI colocar a ação como “top pick” do setor de siderurgia – a empresa anunciou na terça-feira aumento de mais de 10% a partir de março para a rede de distribuição. A ação da CSN foi a de segundo melhor desempenho, em alta de 6,96% no encerramento.

De ontem para hoje, em nível global, houve moderação do temor quanto ao potencial de disseminação de nova variedade do coronavírus, que causou até o momento 17 mortes na China, ante 550 casos de infecção confirmados. No Brasil, a primeira suspeita da doença chegou a ser confirmada nesta quarta-feira, em Belo Horizonte (MG), pela secretaria estadual de Saúde: uma mulher de 35 anos que esteve em Xangai. Mais tarde, o Ministério da Saúde negou a informação, com base no fato de que a pessoa não esteve em Wuhan, cidade onde surgiu a doença.

Instituições como o banco americano Wells Fargo e a consultoria britânica Capital Economics manifestaram hoje percepção de que os efeitos sobre a economia tendem a ser limitados e transitórios. “Não dá para saber por quanto tempo esta preocupação pode persistir, mas a reação de hoje é de que não será como a SARS em 2003”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, referindo-se a uma onda de aversão global a risco também originada na Ásia, por razão de saúde pública.

A julgar pelo comportamento do Ibovespa e de índices do exterior, como o S&P 500, ela considera que o mercado brasileiro vinha se inclinando à decepção, talvez exagerada, com os dados parciais do quarto trimestre sobre a economia interna – como a produção industrial, a atividade de serviços e as vendas do varejo em novembro -, que resultou em correção do “excesso de otimismo” que prevalecia até então para o desempenho doméstico em 2020. Por outro lado, a percepção de que dados menores sobre a atividade mantêm a porta aberta para novo corte da Selic continua a dar suporte a compras de ações.

A temporada de balanços locais, a partir da próxima semana, especialmente as referências que as empresas darão para o ano, contribuirá para que o mercado continue a se ajustar – a série de números trimestrais começa na segunda-feira, dia 27, com Cielo. Na agenda macro, após a decepção inicial com as leituras que têm chegado, ainda referentes ao fim de 2019, será preciso esperar um pouco mais para que se tenha “dados limpos de efeitos como a liberação de recursos do FGTS”, de forma a se obter mais clareza sobre a perspectiva para o ano, acrescenta a economista.