O Ibovespa nem bem esquentou no patamar dos 80 mil pontos, alcançados durante o pregão da última terça-feira, 16, e já furou uma nova barreira histórica de pontuação. Fechou o pregão desta quarta-feira, 17, com valorização de 1,70%, aos 81.189,16 pontos. Nos três pregões desta semana, os ganhos somam 2,32%.

Os recursos vindos do exterior encontraram ambiente tranquilo com agenda esvaziada na cena doméstica. As blue chips (ações com maior liquidez) mostraram valorização relevante e deram a tônica à sessão de negócios, com Petrobrás ON e PN subindo 3,62% (R$ 19,47) e 4,02% (R$ 18,36), respectivamente.

Também se destacaram os papéis do setor financeiro, que têm peso de 25% no Ibovespa. Bradesco PN subiu 2,5% (R$ 36,89) e Banco do Brasil ON, 2,37% (R$ 35,42).

Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos, ressalta que a forte valorização dos papéis da Petrobrás estava atrelada tanto à alta do petróleo no mercado internacional quanto a notícias corporativas relacionadas à negociação para chegar a um acordo entre a estatal e a União que envolve cessão onerosa no processo de capitalização que acrescentou R$ 120 bilhões à petroleira em 2010.

Sobre os recordes consecutivos, Alexandre Espírito Santo, economista da Órama e professor de finanças do Ibmec-RJ, afirma que não existe uma única explicação, mas várias que se complementam neste contexto.

A primeira delas, diz, é que a liquidez internacional é forte e o dinheiro está barato. “Tanto que os mercados lá fora estão fazendo o melhor janeiro em muitos anos, com bolsas batendo recordes dos Estados Unidos à China”, ressaltou, lembrando que os investidores, no curto prazo, não veem mudanças nessa situação.

Ele ressalta que os investidores estão de olho no juro com vencimento em dez anos do Tesouro dos Estados Unidos (T-note), que se mantém perto dos 2,5%, indicando cerca de três altas nos juros pelo Federal Reserve (Fed).

No entanto, se esse porcentual subir a 3% ou 3,5%, o Fed ficaria refém da curva e teria de apertar mais sua política monetária. “Mas vejo que todos estão aproveitando a onda boa agora e deixando cada coisa para seu tempo”, afirmou.

O Brasil, agora, consegue acompanhar e se beneficiar desse momento. Espírito Santo lembra que, diferentemente dos anos 2014 e 2016, não há uma crise política e econômica instalada que tire o país do apetite por risco visto no cenário internacional.

“Pelo contrário, a perspectiva de crescimento do país é boa e estamos com a menor taxa básica de juros da história, o que desloca investimentos da renda fixa para a renda variável.”

Álvaro Bandeira, economista-chefe da ModalMais, complementa que o apetite pelo risco ganha força também com a cena global em recuperação, todas as economias melhorando.

Especificamente nesta quarta-feira, ele citou os dados de produção industrial nos Estados Unidos, que vieram mais fortes que o esperado e corroboraram as perspectivas positivas.

“Há uma recuperação de lucratividade de empresas no mundo inteiro. E, no início de ano, os investidores buscam arriscar um pouco mais porque dá tempo de corrigir depois. Isso justifica a propensão ao risco maior em todo mundo e aqui também.”

Bandeira ressalta que, no Brasil, a fase de crescimento ocorrerá com as empresas já ajustadas, mostrando tanto produtividade quanto lucratividade maiores. Isso também contribui para a força da Bolsa, aponta o economista.

A subida nesta quarta-feira das ações de companhias brasileiras deu suporte aos ganhos do índice MSCI de países emergentes, calculado pelo Morgan Stanley. Às 18h07, o ETF subia 1,40% para 50,01%, o maior nível em sete anos.

O peso das empresas brasileiras no índice é de 6,92% – o quinto maior na listagem dos 24 países componentes.