O mercado financeiro passou por um ano desafiador. O Ibovespa, principal indicador da B3 (Bolsa de Valores Brasileira) chegou a bater os 130 mil pontos, com otimismo do mercado. Só que da metade do ano para cá, foram seis meses de queda e chegamos nos 100 mil pontos que recupera um pouco em dezembro.

E, apesar de fechar o último pregão do ano nesta quinta-feira (30) em alta de 0,77%, o principal indicador da B3 acumula perdas de 11,93% no ano, aos 104.822 pontos. A última vez que a Bolsa brasileira tinha fechado o ano no vermelho foi em 2015. À época, o Ibovespa acumulou perda de 13,3%.

+ Investimentos: Conheça aplicações para ficar de olho em 2022

“Os últimos seis meses do ano embutiram diversas perspectivas negativas com o futuro – rompimento de teto fiscal, volatilidade da Evergrande e incertezas com setor financeiro, com a questão tributária para bancos”, comenta Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante. “A recuperação de preços em dezembro está muito em linha com Bolsa barata. Ficamos descolados dos emergentes e principalmente de países desenvolvidos”, complementa.

“O resultado anual foi ruim, até junho tínhamos uma Bolsa interessante, lá fora indo muito bem. O Brasil tem complicador que é o risco fiscal, questão política, gestão. E o Brasil ficou um país que tem que pagar muito bem por conta do risco de margem, fiscal, orçamentário e político que nós impusemos a nós mesmos”, considera Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Para ele, a elevação dos juros deve fazer com que o investidor pessoa física busque outras opções de investimento com menos risco. “Com juros de dois dígitos no pós-fixado e com liquidez por que iria me arriscar em Bolsa?”, questiona.

A expectativa, segundo Franchini, é que ocorra uma melhora no ano que vem, mas vai depender muito do último trimestre do ano devido ao cenário eleitoral.

SETORES

O setor imobiliário foi dos que apresentou quedas significativas no ano, com praticamente todas as empresas que compõem o índice fechando no negativo. Outro setor que também sofreu bastante foi o financeiro, com quase todas as ações do índice caindo. O segmento de consumo teve um desempenho misto.

“O aumento da taxa de juros, aumento da inflação e incertezas com questões domésticas afetaram bastante o índice desses setores e o próprio Ibovespa”, avalia Cozzolino.

Na outra ponta, as importadoras e o setor de materiais básicos aparecem como destaque positivo.

DÓLAR

O dólar seguiu a mesma narrativa do Ibovespa. “Dificuldades de gestão, de aprovação de reforma estrutural, dificuldade de ter base política e risco fiscal desnecessário com medidas populistas, tudo o que o mercado não gosta foi feito neste segundo semestre”, comenta Franchini.

Cozzolino concorda. “A retomada da economia norte-americana e a própria deterioração do real com riscos fiscais e incertezas internas.”

EXPECTATIVAS

A expectativa para o ano que vem é de volatilidade devido ao ano eleitoral, com o investidor local reagindo ao tom e novidades das pesquisas eleitorais.

Além disso, as possíveis variantes coronavírus também devem ter impacto, que pode ser menor, se forem como a ômicron, mais transmissíveis e menos letais.

“Será um ano de crescimento menor das economias desenvolvidas e emergentes, porque 2021 foi um ano muito forte, recuperação de lucro das empresas, crescimento econômico e as companhias sobrevivendo”, diz Cozzolino.

“Para 2022, crescimento menor, mas companhias mais bem preparadas para enfrentar esse momento. Deve ser um ano em que os preços do Ibovespa ficarem ainda mais descolado dos emergentes e dos países desenvolvidos. Acho que precisa acontecer muito fato ruim novo para o preço da bolsa ficar mais barata ainda”, finaliza Cozzolino.