Em dia de nova leitura em alta para a inflação, desta vez pelo IGP-10, e de ganho para os preços do petróleo, com o Brent negociado perto de US$ 115 por barril na máxima da sessão, a cautela do mercado foi reforçada pela queda de braço entre governo e funcionalismo federal – parte do qual em greve – em meio à insatisfação com o reajuste linear, de 5%, proposto a todos pelo Planalto.

A pressão colocada por categorias do funcionalismo, como policiais federais, auditores da Receita e servidores do BC, para obter vantagens em ano eleitoral recoloca na mesa temores sobre a evolução das contas públicas, um receio que havia segurado o Ibovespa especialmente no segundo semestre do ano passado, quando se antecipava que 2022 não escaparia à deterioração fiscal.

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Assim, a referência da B3 fechou em baixa de 0,43%, a 115.687,25 pontos, no menor nível de encerramento desde 18 de março, nesta segunda-feira entre mínima de 115.176,64 e máxima de 116.190,97, saindo de abertura aos 116.181,61 pontos.

Bem fraco, o giro financeiro foi de R$ 21,8 bilhões, com muitos mercados na Europa ainda fechados nesta segunda-feira pelo feriado de Páscoa. Em Nova York, os três índices de referência fecharam em leve viés negativo, com perdas entre 0,02% (S&P 500) e 0,14% (Nasdaq). No mês, o Ibovespa cede agora 3,59%, ainda avançando 10,36% no ano.

Nesta segunda-feira, “Vale (ON -1,65% no fechamento, véspera da divulgação dos dados de produção) e Petrobras (ON -1,81%, PN -1,76%) puxaram o índice para baixo ainda pela manhã, com as ações de companhias aéreas, como Azul (PN -1,09%) e Gol (PN -3,11%, segunda maior perda do Ibovespa na sessão), também sofrendo um pouco mais – apesar da baixa no dólar, mas em dia de avanço do petróleo, outro fator de pressão sobre os custos do setor”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos.

“A alta do IGP-10, prévia do IGP-M, a 2,48% em abril, após 1,18% em março, confirmou o viés do IPCA, com avanço dos preços no atacado (2,81%) na mensuração entre 11 de março e 10 de abril. Combustíveis e energia elétrica ainda foram ‘drivers’ importantes” para o avanço dos preços neste começo de mês, acrescenta Serra.

Por outro lado, ele destaca a leitura sobre o PIB da China no primeiro trimestre, em alta de 4,8%, acima do consenso e do desempenho da economia chinesa no mesmo período do ano passado. Mas, apesar do desempenho positivo, “ainda há apreensão do mercado quanto aos efeitos do lockdown adotado em março para o ritmo de atividade nos próximos meses”, acrescenta o analista. “Indicadores antecedentes já apontam para uma piora da atividade além de março e, portanto, o governo (da China) deve seguir em frente com seus planos de estímulo econômico”, observa em nota a Guide Investimentos.

Nesta segunda-feira, o petróleo foi negociado próximo às maiores cotações em três semanas, com o Brent de junho em alta de 1,30%, a US$ 113,16 por barril no fechamento de Londres, e a referência americana, o WTI, com ganho de 1,17% para contratos do mesmo mês, a US$ 107,61 no encerramento em Nova York. A paralisação de um campo de produção na Líbia, no fim de semana, contribuiu para reforçar os temores quanto ao nível de oferta da commodity, em meio à prolongada guerra no Leste Europeu e a sanções do Ocidente contra a Rússia.

Lá fora, “a temporada de resultados acelera nesta semana, com as empresas de tecnologia, de grande peso também no S&P 500, divulgando seus números. No mercado local, o Ibovespa, em queda em torno de 0,5% (ao longo de boa parte do dia), refletiu ações de peso, como Petrobras e Vale, apesar do desempenho positivo (do petróleo e do) minério de ferro. Os dados econômicos da China foram lidos de forma mista: de um lado, PIB acima do esperado, mas, de outro, o efeito do lockdown (sobre a atividade econômica), que pressiona as mineradoras”, diz Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.

Na ponta do Ibovespa, destaque nesta segunda-feira para Banco Inter (+4,42%), Locaweb (+4,22%) e Banco do Brasil (+3,69%). Na ponta oposta, Eneva (-4,24%), Gol (-3,11%) e Suzano (-2,82%).