A semana encurtada pelo feriado de quinta-feira no Brasil tende a deixar o investidor um pouco mais cauteloso, provocando redução na liquidez. Alguma volatilidade também não está descartada, especialmente hoje, dia de agenda esvaziada e em que alguns mercados ainda estão fechados por conta da Páscoa (Europa, Hong Kong e Austrália), enquanto as bolsas norte-americanas testam alta. No último dia do pregão, na quinta-feira, o Ibovespa fechou em baixa de 0,51%, a 116.181,61 pontos, e cedeu 1,81% na semana.

Hoje, há continuidade deste movimento, com o índice Bovespa já margeando o nível dos 115 mil pontos. O recuo é moderado pela alta das ações de bancos, enquanto Vale cedia quase 1,80%, após informar queda de 13,5% em suas reservas totais de minério de ferro em 2021, atingindo um volume de 12,495 bilhões de toneladas, para a Securities and Exchange Comission (SEC), órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos.

Apesar da alta da maioria dos índices de ações americanos, o Ibovespa segue renovando mínimas na faixa dos 115 mil pontos. Além de preocupações com o desaquecimento na China após dados fracos do varejo e um crescimento do PIB ainda distante da meta de 5,5%, mesmo que tenha crescido mais que o esperado, há questões internas.

“O tema fiscal nunca vai embora. Porém, na margem questões externas podem pesar mais no curtíssimo prazo”, diz Eduardo Carlier. Gestor responsável pela estratégia de Renda Variável da AZ Quest, ao referir-se às preocupações com a China e em meio à perspectiva de normalização mais forte e rápida da política monetária americana.

No Brasil, o governo pode ter de arcar com uma bomba fiscal de cerca de R$ 25,5 bilhões e pode aumentar a pressão política por flexibilização do teto de gastos em ano de eleições. Além disso, tem as paralisações de servidores que pedem reajustes, sem falar na possibilidade de manifesto de caminhoneiros contra os elevados preços dos combustíveis.

“A liquidez está baixa feriado ainda de Páscoa em outros mercados e aqui tem motivadores internos que começam a preocupar mais, como o pacotão fiscal e o reajuste de 5% dos servidores que só serviu para desagradar e estimular mais categorias a pedirem reajuste”, avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. Às 10h57, o Ibovespa cedia 0,70%, aos 115.365,40 pontos, ante mínima diária a 115.320,17 pontos (-0,74%).

Apesar da alta em torno de 1% do petróleo no exterior, as ações da Petrobras cedem também nesta faixa. O mercado segue de olho na possibilidade de os caminhoneiros realizarem uma caravana para Brasília em protesto contra os preços dos combustíveis. Além disso, paralisação de algumas categorias do setor público realimentam temores fiscais.

O Banco Central segue parado, enquanto o Tesouro deve ir pelo mesmo caminho a partir do dia 20, e os caminhoneiros falam em lançar uma caravana contra a alta nos preços dos combustíveis.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, deve se reunir hoje com associações de delegados da Polícia Federal em Brasília para tentar evitar uma eventual paralisação da categoria. Além do impasse salarial, o governo pode ter de arcar com uma bomba fiscal de cerca de R$ 25,5 bilhões e pode aumentar a pressão política por flexibilização do teto de gastos em ano de eleições.

Aliás, principalmente os papéis da Vale devem ficar no radar, um dia antes da divulgação do relatório de produção e vendas do primeiro trimestre, depois do fechamento do mercado. Na sexta-feira, quando a B3 estava fechada, a mineradora relatou à SEC que os preços do minério podem sofrer volatilidade adicional em 2022. As ações cediam quase 1,80% perto de 11 horas.

Na China, destaque para números fracos do varejo, apesar da alta de 4,8% do PIB chinês no quarto trimestre, ante previsão de 4,6%. No entanto, vale ponderar que os números ainda não refletem os fechamentos recentes em Xangai e outras províncias a fim de conter o avanço da covid-19.

“Primeiro, tem feriado lá fora, e o foco do overnight em cima da China, digerindo o que saiu por lá”, afirma Vinícius Fukushiro, gestor do fundo macro da Tenax Capital. Enquanto as vendas varejistas chinesas de março decepcionaram, o PIB chinês do primeiro trimestre no confronto interanual cresceu mais que o esperado pelo mercado.

“PIB um pouco melhor e outros dados fracos. O mercado já vem esperando um auxílio maior do governo. Na sexta, a China cortou a taxa de compulsório, porém, foi uma redução menor do que a esperada. O mercado segue cético, principalmente porque a meta de crescimento da China, de 5,5%, fica mais difícil de ser atingida. E outro grande tema é a normalização da política monetária americana”, completa Fukushiro.