Mesmo com inversão do sinal do dólar ao longo da tarde desta sexta-feira, o Ibovespa não encontrou força para zerar as perdas do dia e também da semana, contido desde cedo pela leitura acima do esperado para o IPCA em março, no maior nível para o mês em 28 anos. A referência da B3 fechou a sessão em baixa de 0,45%, a 118.322,26 pontos, acumulando perda de 2,67% na semana, após ganhos nas três anteriores entre 2% e 3,2%. Nesta sexta, oscilou entre mínima de 117.486,61 e máxima de 118.868,33, saindo de abertura aos 118.861,49 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 29,7 bilhões nesta sexta-feira. No mês, o Ibovespa cede 1,40%, mas avança 12,88% no ano.

A leitura pior do que o antecipado para o índice oficial de inflação levou o mercado a reavaliar o ciclo de alta de juros, em um contexto local e externo já menos favorável à expansão econômica em 2022, punindo em especial as ações ligadas ao consumo doméstico, como Via (-7,93%), Americanas ON (-7,72%) e Magazine Luiza (-6,55%), na ponta negativa do Ibovespa na sessão.

No lado oposto, destaque para Eletrobras ON (+5,30%), Eneva (+4,05%) e Eletrobras PNB (+4,00%).

O dia foi misto para as ações de grandes bancos (Bradesco PN +1,13%, Unit do Santander -2,64%) e para as de commodities (Petrobras ON +1,09%, Vale ON -2,04%).

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“O IPCA de 1,62% em março corresponde quase à metade da meta para o ano, o que preocupa. A perspectiva é de juros em patamares maiores e por mais tempo, com reflexo para o câmbio, que deve se valorizar. Será difícil para o BC concluir o ciclo de alta de juros em maio”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

“O comportamento da inflação nesses primeiros meses lembra mais o do ano passado do que o histórico do País, em que costuma ser mais alta a princípio, com desaceleração no meio e retomada no final do ano. Agora, parece se estabilizar mais uma vez em nível alto, com inflação importada: China de novo em lockdown, o que traz depois aumento de frete, além do efeito da guerra no Leste Europeu sobre safras e preços agrícolas”, acrescenta o estrategista, destacando a elevada “difusão” em março, em alta ante fevereiro.

“O índice de difusão, que já passa dos 70%, preocupa bastante. O BC terá um trabalho enorme para tentar controlar essa inflação, boa parte dela importada e pelo lado da oferta”, diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. “Para maio, deveremos ter um efeito menor, derivado da redução das tarifas de energia (elétrica), mas por outro lado sobem o dólar, a gasolina, os produtos agrícolas, com fertilizantes também mais caros”, acrescenta.

“Os preços ainda não mostram desaceleração, o cenário é de pressão, mesmo com os aumentos de juros já feitos. Com a inflação como está, não há como se ter fortalecimento da economia com o poder de compra das pessoas sendo desgastado, alcançando tanto a economia real como os mercados”, diz Samuel Cunha, economista e sócio da H3 Invest, chamando atenção também para o efeito da guerra sobre parte das cadeias de suprimentos.

Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, destaca que, em março, as maiores pressões vieram dos preços administrados (combustíveis e energia elétrica) e do grupo alimentação e bebidas. “A escalada nos preços das commodities tem contribuído para a pressão nos preços internos, via repasse. Com isso, o IPCA acumula alta de 11,30% nos últimos 12 meses e confirma a hipótese de que o Banco Central deve promover mais um aumento de 100 pontos na Selic em maio.”