“Para ir depressa, vá sozinho. Para ir longe, vá acompanhado.” A reflexão atribuída a um provérbio africano faz alusão à lição dos gansos, que durante suas migrações se organizam em V, para que o trabalho de bater asas seja mais fácil, com menos resistência do ar. Uma aula de trabalho em equipe, que mostra a fragilidade de estar sozinho em uma jornada e o ganho de força na atuação coletiva com objetivo comum. Ensinamento que tem norteado Katia Vaskys no comando da operação da IBM no Brasil, a primeira mulher a assumir o posto na história centenária da companhia em território brasileiro. A executiva, que está há 11 anos na empresa, foi nomeada em janeiro presidente da gigante americana de tecnologia no País com a missão de acelerar a transformação digital de clientes com soluções em nuvem híbrida e em IA (Inteligência Artificial). Ir longe e acompanhado serve tanto para a liderança do time da IBM para atingir os resultados internos quanto para solidificar a relação com o ecossistema formado por clientes e parceiros. “Vivemos em um mundo multiplataforma. É impossível não ter estratégia de alianças, até com quem você julga ser seu concorrente”, afirmou à DINHEIRO Katia Vaskys, que usa sua formação em comunicação com ênfase em relações públicas, para organizar equipes e liderar as pessoas e seus conhecimentos especializados em tecnologia e negócios para alavancar contratos.

As duas frentes – nuvem híbrida e IA – escolhidas pela IBM para focar sua energia são tendências cada vez mais marcantes no setor tecnológico. E, inevitavelmente, refletem na receita da companhia. Do faturamento global de US$ 73,6 bilhões em 2020, US$ 25,1 bilhões foram decorrentes de cloud. Ou 34%. Em 2019, foi 27,5%. Em 2012 eram 4%. Importante ressaltar que a receita total do ano passado foi 4,5% menor do que do ano anterior, enquanto as vendas relacionadas à nuvem aumentaram 19%.

A nuvem híbrida – que combina a pública e a privada – tem sido utilizada por dois principais motivos. Por um lado, a cloud pública tem grande capacidade de armazenamento de dados, com elasticidade, versatilidade, agilidade e menor preço. Por outro, a cloud privada armazena informações mais sensíveis, que precisam de maior segurança. Segundo pesquisa Predictions Brazil 2021 da IDC, 90% das organizações de grande porte dizem manter data centers tradicionais, sejam próprios ou terceirizados. O relatório aponta que, somando os gastos com infraestrutura (IaaS) e plataforma (PaaS) em nuvem pública, o Brasil deve movimentar US$ 3 bilhões neste ano, crescimento de 46,5% em relação a 2020. O modelo de nuvem privada também avança em bom ritmo, na casa dos 15,5% mostra o estudo, com US$ 614 milhões previstos para 2021. Os investimentos visam dar maior agilidade ao desenvolvimento de novos produtos e serviços digitais das empresas. “Com as necessidades mostradas pela pandemia, a nuvem é um caminho rápido para empresas que precisam ampliar resiliência operacional, revelando uma necessidade de evolução em ambientes híbridos e multicloud”, disse Diego Santos, gerente de tecnologia e inovação da Nextios, unidade de negócios corporativa do grupo Locaweb, dedicada a soluções de negócio e serviços gerenciados para nuvens públicas, privada e híbridas.

Em questão de IA, 31,9% das companhias do Brasil estão em estágio avançado na adoção de ferramentas, segundo sondagem da Microsoft. Percentual maior do que da média global, de 23%. A pesquisa revela também que 98% dessas empresas já se beneficiam financeiramente graças à inteligência artificial.

ROBUSTO Com três data centers integrados, IBM amplia a capacidade de atendimento em nuvem na América Latina, em especial no Brasil.

AMPLIAÇÃO Com vistas a ampliar sua atuação no mercado, a IBM fez sete aquisições em 2020. Entre os setores que mais demandam soluções de nuvem híbrida e IA na companhia estão financeiro, varejista e de manufatura. A Stone, fintech brasileira que atende 650 mil pequenos e médios empreendedores com produtos financeiros, escolheu a IBM Cloud para mover parte de sua carga de trabalho, pela flexibilidade e segurança. A Arezzo&Co, líder no segmento de calçados, bolsas e acessórios femininos na América Latina, foi no mesmo caminho e escolheu as soluções da empresa americana para oferecer a seus clientes uma experiência de compra mais rápida e segura, com melhoria nos processos de vendas e de controle de estoque.

Para absorver à demanda atual e com previsão de o 5G abrir novas frentes de negócios com antigos clientes no Brasil, a IBM ampliou sua capacidade com o início das operações da IBM Cloud Multizone Region, primeira da América Latina. São três novos data centers integrados, instalados em cidades do Interior de São Paulo, que permitirão o uso massivo de nuvem pública.

O investimento – não revelado – mostra que o Brasil foi, é e continuará fundamental na estratégia da companhia, que chegou ao País em 1920 – primeira filial fora dos Estados Unidos – para ajudar na realização do censo demográfico. Outro importante passo da IBM por aqui foi na década de 1960, quando começou a fabricação de equipamentos de hardware de grande porte para dar poder computacional às empresas que emergiam à época. E na década passada, avançou com a computação cognitiva da IBM Watson, para dar inteligência às operações. “É emblemática a instalação da Cloud Multizone Region e reforça nosso compromisso com o País”, afirmou Katia Vaskys, ao avaliar que o setor de telecomunicação será protagonista a partir da quinta geração de internet no mercado brasileiro.

Além de uma arquitetura mais robusta, a gigante americana acaba de anunciar atualizações de algumas ferramentas e novos serviços com foco em nuvem e IA em sua Conferência Think 2021. E num movimento de reforma estrutural de seu modelo de negócio, a companhia prepara a separação do negócio de serviços de infraestrutura gerenciada (Managed Infrastructure Services) em uma nova empresa, que temporariamente foi chamada de NewCo e agora tem nome definido: Kyndryl. Até o fim deste ano estarão concluídas a abertura do CNPJ, destacamento de equipe e outras questões burocráticas.A spin-off já nasce um colosso, com 4,6 mil clientes, 90 mil funcionários e uma carteira de US$ 60 bilhões. Apesar do aparte, seguirá em atuação conjunta com sua matriz de 109 anos de existência. Acompanhada para ir longe. Como ensina a lição dos gansos, do provérbio africano.