Os itens monitorados pelo governo têm pressionado os aumentos de preços na economia, apontou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de 0,87% em agosto para 1,16% em setembro, a taxa mais elevada para o mês desde 1994, ano de implantação do Plano Real. Como consequência, a taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses acelerou de 9,68% em agosto para 10,25% em setembro, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano.

“A inflação está bem acima da meta que foi estipulada para este ano. Não cabe a mim dizer se está fora de controle ou não, fazer juízo de valor. Mas a inflação está em patamar alto”, disse Kislanov. “Tem uma série de fatores que estão por trás dessa inflação. Ela tem sido verificada, principalmente, sobre itens monitorados: energia, gasolina e gás de botijão. E também tem contribuição importante dos alimentícios, especialmente proteínas”, afirmou Kislanov.

Para o pesquisador do IBGE, a demanda tem se recuperado aos poucos, diante da reabertura da economia, o que pode influenciar resultados futuros do IPCA.

No momento atual, o cenário também tem a pressão de uma inflação de custos operacionais e elevação de preço de insumos, além da alta do dólar, que também influencia itens da cesta de consumo, como eletrônicos e gasolina, enumerou Kislanov. “O dólar elevado muitas vezes também acaba estimulando exportações, reduz a oferta interna e acaba aumentando preços”, lembrou.

No mês de setembro, os aumentos de preços nos grupos Habitação, Transportes e Alimentação responderam por cerca de 86% do IPCA, o equivalente a 1,0 ponto porcentual. Entre os itens de maior impacto, os que mais contribuíram para a inflação de setembro foram energia elétrica (0,31 ponto porcentual), gasolina (0,14 ponto porcentual), passagem aérea (0,10 ponto porcentual), gás de botijão (0,05 ponto porcentual) e automóvel novo (0,05 ponto porcentual).

Dentro do índice, a inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação – passou de uma alta de 0,39% em agosto para 0,64% em setembro. Já a inflação de itens monitorados pelo governo saiu de 0,95% em agosto para 1,93% em setembro.

“Os serviços já tiveram variação positiva, o que mostra alguma recuperação, nesse contexto de melhora da pandemia, avanço da vacinação, aumento da mobilidade urbana. No entanto, o acumulado está abaixo do IPCA. O setor de serviços ainda está deprimido. Ele ainda está em processo de recuperação. Mas pode contribuir para uma eventual aceleração (nos preços) tanto essa melhora da pandemia quanto uma questão de custos do próprio setor, como a alta da gasolina, da energia elétrica, com a melhora do cenário, melhora da economia. Mas isso também tudo depende da recomposição salarial, da melhora do mercado de trabalho. As pessoas dependem de renda para o consumo de serviços”, observou Kislanov.

A inflação de serviços acumulada em 12 meses saiu de 3,93% em agosto para 4,41% em setembro. A inflação de monitorados em 12 meses passou de 13,68% em agosto para 15,72% em setembro, o maior patamar desde janeiro de 2016, quando foi de 17,22%.

“Os monitorados são os que mais têm impactado a inflação em 12 meses”, frisou Kislanov.

A gasolina subiu 39,60% nos 12 meses encerrados em setembro, enquanto o etanol aumentou 64,77%. A energia elétrica acumula um aumento de 28,82%. O gás de botijão aumentou 34,67% em 12 meses, mas vem subindo ininterruptamente há 16 meses consecutivos, período em que acumulou uma alta de 39,64%.

As carnes ficaram 24,84% mais caras nos 12 meses encerrados em setembro, e as passagens aéreas subiram 56,81%.

A taxa de 10,25% acumulada pela inflação nos 12 meses terminados em setembro teve como principais contribuições os combustíveis (2,40 pontos porcentuais, sendo a gasolina responsável por 1,93 ponto porcentual individualmente), energia (1,25 ponto porcentual), carnes (0,67 ponto porcentual), etanol (0,39 ponto porcentual) e gás de botijão (0,38 ponto porcentual).