O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que começará a liberar a partir desta terça-feira, 30, pagamentos parciais a recenseadores que alcançarem uma cobertura mínima de coleta em setores censitários. Os recenseadores poderão pedir a antecipação de pagamento de 50% dos questionários feitos em cada setor censitário percorrido. Além disso, o órgão também melhorou o auxílio deslocamento de algumas regiões, e estuda aumentar a remuneração de questionários em locais que têm apresentado maior dificuldade que o previsto.

Um dos objetivos é agilizar o repasse de recursos aos temporários, em meio a uma mobilização de recenseadores em redes sociais por uma greve na próxima quinta-feira, 1º de setembro, contra o atraso de pagamentos.

Segundo Bruno Malheiros, coordenador de Recursos Humanos do IBGE, de fato houve atraso no pagamento de auxílios prometidos aos trabalhadores temporários, especialmente os referentes ao tempo de treinamento.

Ele explica que o problema foi decorrente de uma entrada massiva e repentina de pessoas na folha de pagamento, mas também de erros internos e externos no preenchimento dos cadastros de pagamentos.

“Pessoas com CPF irregular, CPF cancelado, pessoas com erro no cadastramento de contas e também erros no nosso cadastro mesmo”, justificou Malheiros.

As correções precisaram ser manuais. O coordenador garantiu que o problema já foi resolvido, restando apenas alguns casos pontuais. “O problema, de forma geral, foi solucionado”, disse Malheiros.

Quanto ao pagamento do trabalho de coleta, o IBGE explica que o recenseador pode pedir o pagamento dos questionários entregues após alcançar a exigência mínima do setor censitário em questão. Em seguida, os supervisores e coordenadores de área têm dez dias corridos para checar se as informações coletadas são consistentes. Depois dessa confirmação da supervisão, a autorização de pagamento é enviada ao órgão para que seja efetivada, dando início a um novo prazo de mais cinco dias úteis até que o dinheiro chegue à conta bancária do trabalhador.

O coordenador de RH do IBGE acredita que haja um desconhecimento sobre esse trâmite de pagamento, que inclui a verificação dos dados coletados. Para ele, o recenseador acha que o pagamento está em atraso, mas a demora é parte do processo.

“Pagamento da coleta não é imediato”, disse Malheiros. “Estamos discutindo internamente reduzir esse prazo para a supervisão”, contou.

“Essa demora é consequência de um controle de qualidade, que é feito em cima do trabalho do recenseador pelo supervisor”, justificou Cimar Azeredo, diretor de Pesquisas do IBGE.

O gerente técnico do Censo, Luciano Duarte, reconheceu que também houve casos de procedimentos de supervisão que demoraram a serem encaminhados para verificação.

Outra medida em estudo pelo IBGE para reduzir as queixas dos trabalhadores temporários é um aperfeiçoamento do simulador de remuneração dos recenseadores, que varia conforme o tamanho do questionário e as dificuldades de cada setor censitário. Malheiros explica que o simulador de pagamentos por questionários disponibilizado no site do instituto tem como objetivo dar uma estimativa inicial de remuneração, mas que é preciso consultar a tabela do setor censitário para ter os valores reais a serem pagos. “Em algumas vezes vamos ter remunerações reais maiores, em outras seriam remunerações reais menores”, afirmou.

A própria tabela de remuneração está sob avaliação da direção do órgão e da equipe de gestão do Censo. Além da realocação dinâmica de recursos de áreas consideradas de cobertura mais fácil para outras que se mostram mais difíceis, está em análise a possibilidade de melhorar valores pagos em setores considerados mal remunerados.

“Tivemos mais recursos alocados agora para o auxílio locomoção. Recentemente, a gente aumentou esse valor. Esse valor estava baixo em algumas localidades”, disse Bruno Malheiros.

A demora no recebimento dos pagamentos está entre as principais queixas de recenseadores que convocam colegas nas redes sociais para uma greve nacional em 1º de setembro. O coordenador de Recursos Humanos do IBGE diz que não tem informação oficial sobre a paralisação, apenas acompanha o que tem circulado nas redes sociais. Ele afirma que não há expectativa de que a greve de fato ocorra, uma vez que os pagamentos atrasados já foram resolvidos.

O Censo Demográfico já contou quase 60 milhões de pessoas no País. O IBGE, porém, ainda enfrenta dificuldades de contratar os recenseadores para completar o trabalho de campo até outubro. Atualmente, 144.634 recenseadores estão nas ruas coletando informações da população, o equivalente a apenas 78,8% do total de vagas disponíveis. Mais de 9.500 recenseadores foram preparados para o trabalho de coleta, mas não estão em atividade, seja por desistência, seja por pendência de documentos, por exemplo.

O Estado com maior déficit de recenseadores é o Mato Grosso, com apenas 51,2% do número de vagas preenchidas. Já Alagoas está com 99,6% dos postos ocupados. O gerente técnico do Censo, Luciano Duarte, avalia que o instituto esteja enfrentando mais dificuldades de preencher as vagas nos Estados onde a taxa de desemprego é mais baixa.

“A gente acredita que seja uma consequência do mercado de trabalho”, opinou Duarte. “Os Estados com maior taxa de desocupação são os que o IBGE tem maior atratividade para o trabalho do Censo. Em Estados, em municípios, onde tem situação de quase pleno emprego, a gente tem desafios”, completou.

Passados 30 dias de coleta, o porcentual de recenseados equivale a aproximadamente 28% da população, proporção aquém da alcançada em 2010, quando 48% dos brasileiros já tinham sido recenseados ao fim do primeiro mês, lembrou o sindicato de servidores do IBGE. A dificuldade de preencher as vagas de recenseadores teria prejudicado a celeridade do processo. Segundo o sindicato, é necessária uma complementação orçamentária para que o Censo Demográfico assegure uma remuneração mais atraente e justa aos recenseadores.

“Nossa meta é chegar a cada uma das unidades com 85% (de vagas preenchidas), no mínimo, não na média Brasil, mas em cada uma das unidades da federação”, apontou Malheiros.

Ele diz que é comum não preencher todas as vagas existentes, que o órgão conta com o trabalho de recenseadores mais ágeis, que acabam terminando antes seu trabalho e acumulando também outros setores censitários. No entanto, o coordenador reconhece que há “problemas graves e pontuais em algumas unidades da federação”, como Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Paraná e Santa Catarina.

O IBGE encerrou na segunda-feira um processo seletivo com 6.514 vagas de recenseador e 251 vagas de agente censitário municipal e agente censitário supervisor.

“Não desconsideramos abrir novos processos seletivos. Na verdade já abriremos, assim que terminar esse”, antecipou Malheiros. “Apesar de todos os desafios, a operação até aqui tem sido um sucesso, e não tenho dúvida de que vamos conseguir cumprir essa operação com muita qualidade e, provavelmente, dentro do prazo previsto.”

Quanto aos casos de agressões e racismo contra recenseadores, Malheiros ressaltou a importância de que sejam denunciados. “São situações consideradas inaceitáveis, e a gente precisa que seja denunciado pra gente poder apurar. São situações pontuais, mas se fosse só um caso já seria gravíssimo”, concluiu.