Arqueólogos encontraram evidências de uso de tabaco por caçadores-coletores que viveram na América do Norte há cerca de 12.300 anos. Segundo o artigo publicado no site da renomada revista Nature, o achado é 9.000 anos mais antigo do que se pensava sobre o uso do fumo.

O hábito do tabagismo se espalhou pelo mundo após o contato entre exploradores europeus e povos indígenas da América do Norte no século XV, explica a revista. Mas os pesquisadores não sabem exatamente como e quando a planta do tabaco (Nicotiana tabacum) foi domesticada pela primeira vez.

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Agora, o estudo publicado na revista científica Nature Human Behaviour na última segunda, 11, revela a mais antiga evidência de uso do fumo num acampamento de caçadores-coletores onde hoje é uma região de deserto do estado de Utah, nos EUA.

O local fica ao lado do antigo rio chamado Old River Bed, onde as pessoas costumavam acampar entre 13.000 a 9.500 anos atrás. Ao escavar um sítio histórico localizado dentro do Campo de Teste e Treinamento da Força Aérea dos EUA, em Utah, a equipe encontrou uma antiga lareira contendo quatro sementes queimadas de Nicotiana, informa a publicação.

Os pesquisadores usaram a datação por radiocarbono para determinar a idade da lareira e seu conteúdo. As sementes de tabaco eram muito pequenas e frágeis para serem datadas, mas ao avaliar restos de madeira queimada que estava no mesmo local, foi possível afirmar que o material foi usado há cerca de 12.300 anos.

Embora a equipe não possa afirmar, com certeza, como o fumo foi usado, o fato de restarem apenas sementes implica que as folhas e caules da planta (partes com efeito tóxico) foram consumidas, afirma a Nature.

Artefatos encontrados dentro e ao redor da lareira ajudaram a fornecer contexto para os cientistas. É o caso de um fragmento de ponta de lança comumente usada por caçadores-coletores na América do Norte durante o período Pleistoceno (entre 2.5 milhões e 11,7 mil anos atrás).

Curiosamente, como mostra a publicação, os pesquisadores acreditam que a arma pode ter sido usada para caçar várias espécies de patos, já que também foram identificados ossos de aves aquáticas foram no local da lareira.

É improvável que as sementes de tabaco tenham sido depositadas na lareira naturalmente, explica a Nature. Os cientistas acreditam que tenham vindo dentro do estômago dos patos caçados pelos nativos americanos ou de plantas que cresciam na região.

O problema é que o tabaco cresce em terras altas, longe dos pântanos e dos alimentos típicos de aves aquáticas. “Os pássaros teriam que ficar longe de seu habitat e comer algo que é basicamente tóxico e não saboroso. Além disso, encontramos apenas plantas úmidas comuns na região e não tabaco”, diz o pesquisador Daron Duke, do Grupo de Pesquisa Arqueológica Far Western, na Califórnia (EUA), um dos autores do estudo, citado pela publicação.