É do conhecimento até do mundo mineral que as contas e perspectivas econômicas brasileiras não vão nada bem. Pois as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que, de fato, por aqui o ritmo de retomada vai bem aquém dos demais. O PIB per capita brasileiro vai crescer menos da metade da média dos emergentes no ano que vem, além de afundar mais que o de seus pares neste ano. Aos números do Fundo: o Produto Interno Bruto per capita brasileiro encolherá 6,4% até dezembro próximo e crescerá 2,2% no ano que vem. Na média dos emergentes, a retração será de 4,7% em 2020 e alta de 4,8% em 2021. De uma forma geral, diz o Fundo, a economia do mundo globalizado carregará o peso da pandemia por anos, com marcas que demorarão a cicatrizar. Mas, no Brasil, a dor dessa ferida será mais aguda. E seus efeitos não custam a aparecer. O Tesouro Nacional, por exemplo, deve enfrentar um enorme desafio no início do ano que vem, com uma fatura que alcança a considerável cifra de R$ 643 bilhões em dívidas do Governo Federal, vencendo entre janeiro e abril. O valor é mais do dobro da média registrada dos últimos cinco anos. Em outras palavras, no primeiro quadrimestre do ano vindouro, o Tesouro terá de pagar aos investidores o equivalente a 15,4% da dívida interna brasileira. É um papagaio gigante, que já colocou em alerta gestores do governo e, principalmente, o mercado. No momento em que cresce a desconfiança com a sustentabilidade das contas públicas, esse resgate, caso não honrado, pode levar o País direto para o buraco da insolvência irremediável, com necessidade de pedido de socorro nos organismos multilaterais, como o próprio FMI. É o pesadelo dos pesadelos. Para quitar o rombo, o governo precisa se financiar ainda mais e há desconfiança crescente sobre a sua capacidade de cumprir com o compromisso. Para piorar, o aumento gradativo da inflação tem criado um desafio a mais dentro da meta de cumprimento do teto de gastos. O descompasso entre índices de preços poderá exigir o corte extra de cerca de R$ 20 bilhões. Enquanto a expansão do limite das despesas já está “travada” em 2,13%, a alta recente nos preços servirá de referência para corrigir o salário mínimo e, por tabela, boa parte das despesas da União com benefícios previdenciários e assistenciais em 2021. A diferença já está contabilizada e os técnicos precisam agora ver de onde irão tirar os R$ 20 bilhões. Na realidade nua e crua, há muito tempo o Brasil não passava por uma encalacrada econômica dessa magnitude. O que fazer? As opções seguem bem reduzidas. Dentro do ambiente do Ministério da Economia só se fala na famigerada CPMF e ninguém, literalmente, nem dentro do governo, nem no Congresso, muito menos entre os brasileiros contribuintes, aceita essa saída que iria representar, decerto, um retrocesso. Sem ter de onde tirar, o governo peleja por um milagre. O problema é que o prazo está encurtando e as contas chegando. E altas. A má gestão dos recursos orçamentários vai ficar como mais uma marca negativa dessa administração. Se não bastasse mais nada.

Carlos José Marques, diretor editorial