Vender o Brasil aos investidores internacionais nunca foi fácil. E o agravamento da crise nos últimos anos, claro, piorou ainda mais as coisas. O que mais escuto nas incontáveis reuniões que participo mundo afora com investidores é que o Custo Brasil, a corrupção, a instabilidade política e econômica, a infraestrutura precária e até mesmo a falta de exits (eventos de liquidez, venda de startups) são fatores que tornam o País pouco atraente frente a outras economias emergentes que vêm despontando no digital, como China e Índia. Mas este não é um artigo para pintar um quadro pessimista. Ao contrário, nunca vivemos um momento tão oportuno para acreditar no potencial de retorno dos investimentos em startups brasileiras.

Como empreendedor e investidor, estou neste negócio de Internet desde 1997. Eu e meu sócio na Bossa Nova Investimentos, João Kepler, já contabilizamos mais de 150 startups investidas desde 2011. Com as credenciais de quem viveu na pele todos os altos e baixos do mercado digital no Brasil, estou confiante de que os próximos anos serão de vacas mais gordas. Vejo quatro pilares que, somados, tornam este o melhor momento para se investir em startups:

1) Escassez de investidores: mesmo com a queda rápida da SELIC, os investidores ainda não estão olhando a sério para startups, o que gera baixa concorrência. Negócios que seriam disputadíssimos em mercado evoluídos, aqui têm que penar para conseguir um investidor.

2) Qualificação dos nossos empreendedores: eles estão, sim, mais preparados. Há cinco anos, quando fundamos a Bossa Nova, a maior parte não sabia o que significavam conceitos como Life Time Value, Business Plan, Cloud Computing, Bounce Rate, Break Even, Bootstraping ou MVP. Uma pesquisa encomendada pela PayPal para Mind Miners para fazer um raio X do empreendedorismo no Brasil e divulgada recentemente revelou que 20% dos futuros empreendedores querem fundar uma empresa de tecnologia. Mais da metade, 51%, pensam em abrir um negócio multicanal com uma loja física e online.

3) Mobile first: o Brasil alcançou a marca de mais de 241 milhões de celulares em setembro passado, uma densidade de 115,93 celulares/100 habitantes, segundo a Anatel. Até 2013, o número de feature phones era maior do que o de smartphones. Atualmente, eles são maioria absoluta. A Fundação Getúlio Vargas estima que terminaremos 2017 com um smartphone por habitante e que até 2019 teremos 236 milhões de telefones inteligentes em uso no País. Com esta base crescente, negócios mobile first conseguiram vingar no mercado brasileiro, como é o caso da 99, do iFood e do Nubank e, impossível não mencionar, as redes sociais. O Facebook chegou a 2 bilhões de usuários ativos no mundo, 117 milhões deles brasileiros. O Brasil desponta também como um dos Top 5 em número de usuários em vários aplicativos mobile, como Twitter, Waze e Uber.

4) Adesão crescente aos canais de mídia digitais e o baixo investimento para atrair audiência e consumidores: na era do marketing de conteúdo, construir e engajar a audiência nunca foi tão fácil e barato.

As redes sociais se tornaram a nova telinha dos brasileiros e já não há como negar a relevância do YouTube, do Facebook, do Instagram, do Google e outros canais online nos planos de mídia das agências e anunciantes. Com uma geração que assiste cada vez menos TV e passa mais e mais horas conectada nas redes sociais, principalmente assistindo vídeos, criar seus próprios canais ou despejar verbas nos influencers se tornou mandatório às marcas que, sob pena de perder market share, são
obrigadas a pegar carona no crescente sucesso dos youtubers e personalidades do Instagram.

Se você já é investidor ou está pensando em diversificar, agora é a hora de começar a olhar nosso mercado com muita atenção. Temos uma nova safra de empreendedores digitais que não devem nada aos gringos. Temos muitas oportunidades para negócios disruptivos ocuparem espaços em grandes mercados. A economia dá sinais claros de melhora e não é mais preciso um caminhão de capital para colocar uma startup na estrada ou para investir. Com pouco capital é possível começar a investir e aproveitar este novo ciclo virtuoso que está começando. Quem entender que a hora é esta poderá esperar bons resultados nos próximos anos.

Mas aos que ainda olham o Brasil pelas lentes do pessimismo, fica o alerta do megainvestidor Warren Buffett: “Tenha medo quando os outros estão gananciosos e ganância quando os outros estão temerosos.”