Como as empresas podem atuar e gerar valor em um mundo polarizado? Por meio do fortalecimento de seu capital social. Isto é possível a partir de uma estratégia de valor compartilhado, que tem por base um sólido propósito corporativo, conectado a iniciativas coerentes e de impacto mensurável em favor dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Esta é a conclusão da pesquisa Social Polarization: a new risk to integrate for business, lançada há duas semanas pela consultoria internacional GlobeScan. Neste trabalho, foram ouvidos 103 executivos do mundo todo, em sua maioria (67%) diretores e vice-presidentes.

No texto anterior, apresentamos o cenário de polarização social que preocupa os profissionais das empresas. Agora, vamos explorar o caminho virtuoso, apontado pelo estudo, para os negócios em meio a esse ambiente turbulento. Para tanto, a pesquisa aprofundou o entendimento sobre os 98 dos 103 entrevistados, que apontaram a polarização social e o populismo como um risco para os negócios.

A GlobeScan pediu a esse grupo que definisse a relevância (alta, média ou baixa) de algumas iniciativas capazes de mitigar o risco para as empresas. Veja as porcentagens dos quesitos com a resposta alta relevância89% – Entender as expectativas da sociedade sobre os negócios.

83% – Engajar o propósito corporativo mais proativamente/efetivamente com a sociedade.
82% – Promover o engajamento inclusivo com comunidades locais.
70% – Reforçar a mensagem de inclusão nos esforços de marketing.
67% – Ser um ator social, compartilhando a proposta de valor (da empresa) em temas/debates (com a sociedade).
63% – Ter ações para promover/avançar os ODS.

Esse conjunto de respostas já oferece fortes indicativos da estratégia a ser trilhada pelos negócios diante do ambiente polarizado. Em primeiro lugar, é fundamental que se desenvolva a capacidade de escutar a sociedade. Uma escuta que seja, sobretudo, empática e diversa. Que verdadeiramente esteja aberta a colher as opiniões dos diferentes públicos e que não se limite àqueles mais próximos da companhia, saindo da zona de conforto da própria bolha e ouvindo um universo mais variado de stakeholders.

Diz o estudo: Ter uma compreensão mais abrangente e dinâmica das expectativas da sociedade em relação aos negócios é percebida como a parte mais crítica da resposta das empresas ao crescente risco social Os profissionais corporativos agora precisam considerar métodos mais proativos de engajamento com as comunidades e a sociedade.

Essa escuta dará mais qualidade, tanto à construção de um propósito que conecte a empresa às pessoas, caso a empresa ainda não tenha clareza de qual sua contribuição maior para a sociedade, quanto à definição de uma estratégia de engajamento por meio de ações coerentes com essa razão de ser da empresa e com as necessidades das regiões em que atua.

Depois de escutar a sociedade e ter um propósito coerente com o negócio e, ao mesmo tempo, capaz de mobilizar em favor da sociedade, o próximo passo é identificar onde atuar. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) têm se tornado, cada vez mais, a plataforma que apresenta com credibilidade todas as grandes tendências que devem ser trabalhadas por governos, empresas, organizações da sociedade civil e indivíduos até 2030.

Outra pesquisa recente mostrou que 49% dos brasileiros ainda não sabe o que são os

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Eles foram desenvolvidos pela ONU com a participação de todos os países, que construíram uma agenda de problemas comuns que precisam ser atacados para garantir uma vida sustentável no planeta.

São questões humanitárias que estão acima das ideologias políticas, como erradicar a pobreza, ter uma agricultura sustentável, defender o trabalho decente e o crescimento econômico, reduzir as desigualdades, preservar a vida na água e promover uma cultura de paz, entre outros.

Os grandes desafios para as empresas que trabalham com os ODS estão em conquistar a adesão interna e a credibilidade externa. Em ambos, a melhor alternativa é desenvolver a capacidade de demonstrar o impacto gerado. É fato que ainda não há uma estrutura de medição padronizada para ajudar as empresas a avaliar suas contribuições com mais rigor. Essa, portanto, é uma habilidade que ainda está por se consolidar.

Em resumo, o caminho das pedras é escutar, identificar um propósito coerente, alinhar-se aos ODS e medir o impacto das ações. Assim será possível construir um capital social robusto, que reúna diversos grupos de pessoas em torno de um conjunto comum de valores compartilhados. Esse deve ser o objetivo final do engajamento corporativo com a sociedade. O que se busca, afinal, é definir o novo papel das empresas na solução dos problemas da sociedade.