A confiança no futuro é algo que o grupo Hope expressa desde o nome. Líder do varejo de moda íntima feminina no País, com 4% do mercado, a empresa já começa a sentir a retomada do consumo e deve fechar 2021 com alta de 25% na comparação com 2019. Nos próximos cinco anos, a companhia espera dobrar o faturamento da divisão de lingerie (setor que movimenta anuR$ 3,6 bilhões no País) e fortalecer sua presença no mercado de moda fitness com a Hope Resort. Lançada em 2017, a linha já representa 8% do faturamento do grupo. “Ninguém entende mais de corpo feminino do que nós”, afirmou à DINHEIRO uma das controladoras das empresa, Sandra Chayo. “Vamos usar isso a nosso favor para nos firmar também no mercado de moda fitness.”

Filha do fundador Nissim Hara, que morreu em 2020, anos depois de ter se afastado da presidência, Sandra comanda a administração do grupo Hope com outras duas irmãs, Karen e Daniela. Elas seguem o modelo traçado há 50 anos pelo pai, que investiu US$ 4 mil para iniciar uma confecção de moda íntima na região central de São Paulo. Combinar a discrição de uma empresa familiar e a competitividade do varejo é o desafio que as irmãs compartilham com o atual CEO, José Luís Fernandes. O crescimento projetado para 2022 é de 30%. “São estratégias de expansão agressivas, em um patamar ambicioso”, disse Fernandes.

A ambição tem um motivo: durante a pandemia, o faturamento chegou a cair 20%. A continuidade dos planos de investimentos, com a expansão da planta produtiva no Ceará, ao custo de R$ 8 milhões, além de um aporte de R$ 2 milhões em tecnologias para as vendas on-line, só foi possível graças à solidez da empresa. A Hope pode se vangloriar de ser uma das raras operações do setor sem dívidas. E sua rede de franquias, com 208 unidades que respondem por 60% do faturamento, tem puxado a retomada, assegurando os volumes de vendas. Mesmo assim, a crise cobrou seu preço. O grupo Hope precisou renegociar os prazos de pagamentos com fornecedores e driblar o desabastecimento de matéria-prima, especialmente os itens que vêm da China. O CEO afirmou que a companhia tem segurado a pressão sobre os custos, repassados apenas em parte para lojistas e consumidores. Ainda que possa haver algum impacto na cadeia nos próximos meses, a Hope tem planos de duplicar sua produção em cinco anos. Hoje, são feitas 8 milhões de peças anualmente. Aumentar a escala permitirá ao grupo atender o crescimento das vendas on-line e a aguardada recuperação do consumo.

Fábio Costa

“Projetamos patamares de crescimento ambiciosos para o próximo ano” José Luís Fernandes CEO do Grupo Hope.

Essa esperança foi antecipada com uma nova proposta de lojas para as cidades com menos de 200 mil habitantes. Até agora, o grupo já confirmou a abertura de 35 unidades — bem próximo da meta de fechar o ano com 40 novas lojas. O formato foge dos grandes centros comerciais, onde as despesas e a concorrência são maiores, e une as marcas Hope e Resort.
No Brasil, o setor de moda íntima ainda mantém a tradição de venda por catálogo, cujos prazos de entregas podem somar semanas. Por isso a cadeia de distribuição sempre esteve atrasada em relação ao mercado. Nos últimos 18 meses, a logística da Hope foi obrigada a cobrir essa distância. “Com a omnicanalidade implementada em 100 unidades, estamos usando nossas lojas como hubs de distribuição”, afirmou Sandra. Em setembro, a empresa começou a entregar compras em menos de 24 horas para a capital paulista. Nas outras regiões, o prazo ainda é de dois dias úteis. “Em seguida, vamos levar a proposta para o Brasil todo.”

BIODEGRADÁVEL A inovação no setor têxtil está conectada à sustentabilidade. É uma cobrança dos consumidores, que pressionam especialmente o mundo da moda. No grupo Hope, o trabalho tem apelo pessoal para Sandra, que vem levantando a agenda de responsabilidade social desde a sua entrada na companhia, há mais de 20 anos. “Já usamos matéria biodegradável, da mesma forma que promovemos iniciativas de descarte adequado”, afirmou.

8 milhões de peças é a producão anual

35 novas lojas serão abertas em cidades de até 200 mil habitantes 

Parte dessa visão resulta em projetos que extrapolam os muros da empresa. Em pesquisa, a marca descobriu que peças íntimas eram os itens de maior necessidade para moradoras de rua, atrás apenas de água potável. Por isso, a executiva encabeçou um projeto para doação dessas peças, em que a marca se responsabilizará pela coleta em lojas, higienização e distribuição. “O que meu pai deixou foi uma visão de mundo. Ele queria ser relevante na vida de quem se relaciona conosco. É nesse sentido que evoluímos hoje.”