A tensão entre os Estados Unidos e a China aumentou nesta sexta-feira (29) devido a uma nova lei de Pequim que, segundo Washington e seus aliados ocidentais, reduz a autonomia de Hong Kong.

A situação na ex-colônia britânica se soma a uma longa lista de questões que confrontam Washington e Pequim: a origem da COVID-19, a guerra comercial, Taiwan e a minoria uigur.

“A ação do governo chinês contra Hong Kong é a mais recente de uma série de medidas que diminuem o prestigioso status da cidade”, uma “tragédia” para todos, disse o presidente dos EUA, Donald Trump, nos jardins da Casa Branca.

Pequim “não manteve sua palavra ao mundo de garantir a autonomia de Hong Kong”, acrescentou.

A tensão aumentou após a recusa da China de abordar no Conselho de Segurança da ONU as “sérias preocupações” causadas pela situação no oeste de Hong Kong.

Trump anunciou o início do processo para eliminar as isenções comerciais usufruídas por Hong Kong porque “não há mais autonomia o suficiente para justificar o tratamento especial que concedemos ao território”.

Ele acrescentou: “Estou ordenando à minha administração que inicie o processo de eliminação da política que oferece tratamento diferente e especial a Hong Kong. Isso afetará toda a gama de acordos, desde o tratado de extradição até os controles de exportação de tecnologias de duplo uso e muito mais, com poucas exceções”.

O presidente também anunciou que vai impedir a entrada de cidadãos chineses que representam um “risco” potencial à segurança do país.

“Durante anos, o governo chinês espionou para roubar nossos segredos industriais. (…) Hoje emitirei um decreto para garantir ainda mais a pesquisa universitária vital de nossa nação e suspender a entrada de certos cidadãos chineses que identificamos como possíveis riscos à segurança “, afirmou.

– Pulso firme na ONU –

Pouco antes, os Estados Unidos e o Reino Unido instaram a China a abordar “sérias preocupações” com a autonomia de Hong Kong em uma sessão do Conselho de Segurança da ONU convocada por eles e rejeitada por Pequim.

O Ocidente teme que a nova lei chinesa reduza as liberdades que Pequim prometeu manter em Hong Kong quando Londres devolveu o território à China em 1997, levando ao fim da autonomia política do enclave, onde o movimento de protesto tenta retornar às ruas.

“Esperamos que o governo chinês faça uma pausa e reflita sobre as preocupações sérias e legítimas que essa proposta (lei) levantou em Hong Kong e em todo o mundo”, disse Johnathan Allen, segundo na representação do Reino Unido na ONU.

Por sua parte, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Kelly Craft, instou os países da organização a “se uniram” para exigir que a China “honre os compromissos internacionais assumidos com a instituição e com o povo de Hong Kong”.

A China, uma das cinco potências que têm direito ao veto no Conselho de Segurança da ONU, rechaça qualquer encontro formal e ação internacional sobre Hong Kong.

– “Sem interferência” –

Após a reunião do Conselho, o embaixador de Pequim na ONU, Zhang Jun, alertou que “qualquer tentativa de usar Hong Kong para intervir nos assuntos internos da China estará fadada ao fracasso”.

Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que “o Conselho de Segurança não é um instrumento que os Estados Unidos possam manipular como bem entenderem”.

A nova lei chinesa pune a secessão, a subversão do poder estatal, o terrorismo e os atos que colocam em risco a segurança nacional, enquanto permite que suas agências de segurança operem abertamente em Hong Kong. Além disso, pune a interferência estrangeira no território semiautônomo.

Hong Kong, que sempre manteve uma atitude desafiadora em relação a Pequim, reiniciou em 2019 um movimento de protesto contra a influência da China, com manifestações gigantescas que contribuíram para o aumento de ideias pró-independência, até então da minoria na ex-colônia britânica.

A China alega que Washington brinca com fogo apoiando publicamente os protestos e acusa os manifestantes mais radicais de atividades “terroristas”.

Sob o princípio “um país, dois sistemas”, que governa as relações com Pequim desde que o território foi devolvido pelo Reino Unido à China em 1997, Hong Kong tem ampla autonomia, liberdade de expressão e justiça independente.

A China argumenta que a lei, aprovada na quinta-feira, se aplicará apenas a “uma pequena minoria de pessoas suspeitas de cometer crimes contra a segurança nacional”, de acordo com o editorial do People’s Daily, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês.

Mas em Hong Kong, a oposição diz que abre caminho para um declínio sem precedentes em suas liberdades.

“É o fim de Hong Kong”, disse à AFP Claudia Mo, deputada pró-democracia do Conselho Legislativo de Hong Kong. “A partir de agora, Hong Kong será uma cidade chinesa como as outras.”