A China acusou o governo americano, nesta sexta-feira (29), de fazer da ONU um “refém” a respeito da polêmica lei de segurança nacional que Pequim deseja impor a Hong Kong, pedindo aos ocidentais que não se envolvam no tema.

Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália lideram a frente internacional contra o projeto, que prevê punir atividades separatistas e “terroristas”, subversão, ou mesmo ingerência estrangeira no território chinês semiautônomo.

Eles estimam que tal projeto é uma maneira disfarçada de amordaçar a oposição em Hong Kong e acabar com as liberdades no território. China rebate a acusação de forma categórica.

A lei surge após os enormes protestos em Hong Kong em 2019 contra a influência de Pequim, inicialmente pacíficos, mas também marcados por violência e vandalismo. As manifestações também reforçaram um movimento pró-independência anteriormente marginal.

Sob o conceito “Um país, dois sistemas”, a ex-colônia britânica se beneficia, desde sua devolução à China em 1997, de ampla autonomia, liberdade de expressão e uma Justiça independente.

O projeto de lei sobre a segurança nacional, que foi aprovado na quinta-feira (28) pelo Parlamento nacional em Pequim, totalmente controlado pelo Partido Comunista Chinês (PCC), compromete a autonomia de Hong Kong?

Sim, de acordo com Estados Unidos e Reino Unido, que conseguiram mobilizar, para esta sexta, uma discussão informal sobre o tema no Conselho de Segurança da ONU. Segundo fontes diplomáticas, o encontro será a portas fechadas e por videoconferência.

Em uma declaração conjunta com Canadá e Austrália, os dois países acusaram Pequim na quinta-feira de violar suas obrigações para com Hong Kong e seus 7,5 milhões de habitantes.

Eles expressaram sua “profunda preocupação” com essa lei que “limitaria as liberdades do povo” e “corroeria (…) drasticamente a autonomia e o sistema que o tornaram tão próspero”.

– “Refém” –

Pequim anunciou, nesta sexta-feira, ter protestado oficialmente ante as quatro capitais.

“Pedimos que esses países (…) parem de interferir nos assuntos de Hong Kong e nos assuntos internos chineses”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian.

Ele denunciou uma abordagem americana “completamente irracional” e alertou que a China não permitirá que os Estados Unidos “tomem o Conselho de Segurança como refém por seus próprios interesses”.

Do lado britânico, o chefe da diplomacia, Dominic Raab, indicou que, se Pequim não recuar, Londres modificará as condições associadas ao “passaporte britânico ultramar” emitido para os moradores de Hong Kong depois que o território foi devolvido à China, a fim de torná-lo mais favorável.

Atualmente, esse passaporte permite uma permanência de apenas seis meses no Reino Unido, um limite que seria suprimido para permitir que seu portador procure trabalho, ou estudo, no país por “períodos prolongados de 12 meses”, disse Raab à rede BBC.

Hoje, Zhao Lijian ameaçou Londres com represálias.

Em um contexto de fortes tensões entre Pequim e Washington (COVID-19, uigures, Taiwan, entre outros pontos), o presidente americano, Donald Trump, anunciou que dará uma coletiva de imprensa nesta sexta. Nela, anunciará “o que vamos fazer em relação à China”.

Segundo seu secretário de Estado, Mike Pompeo, ele poderá adotar medidas relativas aos estudantes chineses nos Estados Unidos.

Antecipando a votação do Parlamento chinês na quinta, Washington já havia revogado o status especial concedido a Hong Kong, abrindo caminho para a abolição dos privilégios comerciais americanos concedidos ao território.

Mike Pompeo justificou essa decisão pelo fato de, segundo ele, a China não conceder mais ao território seu “alto grau de autonomia”, conforme prometido no acordo sino-britânico assinado antes da retrocessão.