“Hoje foi um, outro dia vai ser outro, e mais outro”, desabafou dona Cândida às cerca de 200 pessoas que acompanhavam o enterro de seu neto, Felipe Fuschi Amaro, de 23 anos. Inteligente e dedicado, segundo familiares e amigos, ele foi o passageiro morto no ataque ao ônibus.

Recém-formado em Direito, Amaro obteve o registro de advogado há menos de dois meses. Segundo seu avô materno, Benedito José Correa, de 67 anos, o jovem deveria estar em uma audiência – a primeira que faria sozinho – na hora da tragédia. “Ele deve ter voltado para buscar alguma coisa, não sei”, lamenta. O jovem pretendia seguir a carreira na área tributária.

De acordo com Correa, o neto não costumava andar de trólebus. “Ele usava o carro ou Uber”, conta. “Foi uma fatalidade. Poderia ter levado o tiro em qualquer lugar. Foi um só, mas no peito, fatal.”

Amaro era pai de Laura, de 10 meses, fruto do casamento de cerca de um ano com a gerente de loja Rainara Silva. Antes disso, o jovem viveu a maior parte do tempo com o avô materno, com quem ainda costumava se encontrar várias vezes na semana. Toda a família mora em Diadema, na região metropolitana de São Paulo.

Corintiano comedido, o jovem é descrito frequentemente como inteligente e dedicado. Durante um período, foi motorista de Uber para equilibrar as contas. “Ele falava muito bem, tinha o poder da palavra”, conta o avô. “Era muito querido.”

Enterro. O velório ocorreu no Cemitério Vale Jardim da Paz, em Diadema. Pouco depois das 17 horas, sob palmas, o caixão foi carregado por oito policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), na qual seu pai, Eduardo Amaro, é sargento. A mãe é gerente de loja.

Na frente da cova do filho, o sargento agradeceu a presença de todos e pediu penas mais duras. “Alguma coisa precisa mudar esse País. Precisa mudar. Não dá para viver desse jeito. Precisa mudar”, defendeu.

Em seguida, o professor de História Francisco Gomes Lima, de 56 anos, também se manifestou: “Esse menino foi o meu eterno aluno. Todos jovens façam o mesmo. Muito obrigado por você ter sido meu aluno”.

Ao Estado, Lima relatou ter recebido uma mensagem de Amaro na quarta-feira – com quem ainda mantinha contato cinco anos após a formatura do ensino médio. “A gente queria fazer um projeto social no (bairro Jardim) Inamar”, conta o professor da Escola Estadual Professor Pedro Madoglio.

Segundo ele, no texto, o ex-aluno o chamava de “eterno mestre”. “Acredito nos meus alunos. O Felipe tem de ser exemplo de tudo isso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.