O hiato do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encerrou o último trimestre de 2017 em 4,4%, devido à ociosidade ainda elevada na economia. Mesmo com o crescimento esperado para este e o próximo ano, a capacidade ociosa ainda impediria que o hiato ficasse zerado antes do fim de 2019, previu José Ronaldo de Castro Souza Junior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“O hiato é de 4,4%, que é a diferença entre o que a gente produz e o que a gente poderia produzir em potencial. Ou seja, há espaço para a política monetária expansionista, sem gerar pressão inflacionária”, avaliou Souza Junior.

Segundo os cálculos do Ipea, com um crescimento de 3,0% previsto para o PIB de 2018, o hiato encerraria este ano ainda abaixo do seu potencial, para aproximar-se de zero apenas ao fim de 2019, quando a economia deve crescer também 3,0%.

“Ontem já ficou bastante clara a intenção de fazer novo corte (na taxa básica de juros) na próxima reunião (do Comitê de Política Monetária do Banco Central). E a gente considera que a decisão é amparada pelos números da ociosidade e números de inflação”, justificou Souza Junior.

O pesquisador acredita que a atividade econômica mantém a trajetória de recuperação, a despeito dos resultados negativos mostrados no primeiro mês de 2018. Segundo ele, a retração da economia em janeiro foi pontual, devido a um avanço significativo registrado em dezembro, mas que devolve apenas parte do crescimento do mês anterior.

O cenário de previsões do Ipea para a expansão do PIB considera que o ajuste fiscal seja feito pelo governo ainda em 2018 ou em 2019. Segundo o diretor do instituto, a aprovação da Reforma da Previdência não necessariamente seria impactante nas contas públicas em 2018 ou 2019, mas, para que o mercado continue a financiar o déficit do governo, é preciso que confie que esse ajuste será feito.

“Caso esse cenário de ajuste fiscal de mudanças necessárias não se consolide, tem risco de as projeções serem completamente diferentes. Porque se introduzir essa incerteza em relação às contas públicas, que ainda estão com problema estrutural, (o PIB) poderia ter avanço muito abaixo. Esse número (crescimento do PIB em 2019) pode ser melhor se fizermos reformas mais ousadas, e pode ser pior caso esse compromisso com o ajuste fiscal não se consolide”, alertou Souza Junior.

“Nosso cenário para 2019 pode ser considerado conservador, porque se de fato a reforma (da Previdência) for feita, é possível que o investimento seja bastante melhor no ano que vem. A indústria pode vir a crescer bastante mais no ano que vem, se essas incertezas se dissiparem”, completou Marco Antônio Cavalcanti, diretor adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.

Cavalcanti acredita ser provável a aprovação a Reforma da Previdência em 2019. O pesquisador ressaltou que o cenário permanece positivo para a atividade econômica, porque a reação do mercado à não aprovação da PEC da Previdência até agora tem sido bastante moderada.