O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne nesta quinta-feira (29) para definir a meta de inflação até 2026. A atual meta para 2023 é de 3,25%, e de 3% para 2024 e 2025. No entanto, a equipe econômica – Simone Tebet e Fernando Haddad pelo governo, e Roberto Campos Neto, pelo Banco Central, deve também mudar as atuais metas, já que estas podem ser revistas, assim como o modelo, que deve ser alterado de meta-calendário para contínuo. 

Segundos economistas, Campos Neto deve ser favorável a manter a meta em 3% para 2024, e dar o aval à adoção da meta contínua. Outra aposta é que haja a discussão sobre o intervalo de tolerância das metas de 1,5 p.p. para 2 p.p.

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Como funciona o regime de metas de inflação?

No Brasil, a meta para a inflação é definida pelo CMN e cabe ao Banco Central adotar as medidas necessárias para alcançá-la, considerando dados de inflação, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A meta se refere à inflação acumulada no ano. Com metas previstas para os próximos 2 anos, o sistema prevê um intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

O que esperar da  reunião?

André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acredita que, se o CMN definir uma elevação para 4%, pode ficar mais fácil o trabalho do BC de trazer a inflação para a meta em 2024. “Isso permitiria uma redução mais acelerada da Selic já a partir da reunião do Copom no início de agosto”, reforça. Os altos juros do país, hoje no patamar de 13,75%, são criticados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início da sua gestão.

O economista explica que, informalmente, o BC já utiliza a meta contínua, e que a CMN pode regularizar esse regime, já usado em outros países. A meta de ano-calendário obriga o Banco Central a atingir a meta entre janeiro e dezembro do ano corrente, a partir de uma meta definida três anos antes. 

“Isso dificulta o trabalho do BC por sujeitá-lo a sazonalidades de preços ao longo do ano, obrigando-o a ser mais duro para atingir a meta, o que pode sacrificar a atividade econômica, a qual sofre com juros elevados, por meio de menores investimentos e maior desemprego. Uma meta contínua liberta o BC do calendário anual e flexibiliza o cumprimento da meta de acordo com o cenário doméstico e externo, em que choques de oferta e de demanda podem surpreender as expectativas e ampliar o horizonte de atingimento da meta sem penalizar demais a sociedade”, explica Roncaglia, defendendo que a medida pode dar mais transparência para a instituição financeira. 

Para Marco Rocha, economista e professor do Instituto de Economia da Unicamp, há a possibilidade de elevação da meta de inflação para 2023 e anos seguintes, o que possibilitaria maior afrouxamento da política monetária. “Uma elevação da meta de inflação daria mais folga em relação à taxa de juros e possibilitaria maior estímulo à economia como um todo”, acrescenta. 

O professor da Unicamp também considera difícil a modificação da meta, diante do custo político: o governo vive em queda de braço com o BC, além de ter críticas de analistas que acreditam que a meta não será cumprida. “Quanto a mudança do regime metas, é uma discussão que ainda pode tomar algumas rodadas até ela ser ou não implementada”, calcula Rocha.

Mercado espera manter 3% para 2024

Os resultados de inflação, como o último Índice de Preços ao Consumidor Amplo quinzenal (IPCA-15), que teve alta branda de 0,04% em junho ante maio, e a ata do Copom, podem ter efeitos também sobre a reunião. O mercado também corrobora com a lógica de Campos Neto sobre a alta de juros para conter a inflação, e o encontro desta quinta-feira pode bater o martelo

“A decisão de cortar ou não em agosto está condicionada ao veredito da reunião. Caso a meta [de 2024] seja preservada, acredito que o Copom reduza em 0,25 p.p. Além disso, a ata reforçou a dependência de dados. Portanto, até a próxima reunião, mais informações estarão disponíveis para o BC atualizar seu balanço de riscos”.

Segundo Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, o mercado financeiro espera a meta em 3%, conforme ainda ocorre, mas vê positivamente a mudança do ano-calendário. “Se isso se confirmar, muito provavelmente veremos melhora significativa nos juros. O eventual aumento da meta de inflação é algo que traria muito ruído para o mercado, principalmente por conta do contexto macroeconômico”, conclui.