DINHEIRO ? Qual é a sua análise sobre o mercado executivo no Brasil?

PATRICK HOLLARD ? É um momento muito bom. Ninguém que se considera global pode ficar fora do Brasil. Porém, temos uma preocupação. O mercado está muito aquecido e, no Brasil, só se fala do apagão na infraestrutura. Estamos percebendo que há um apagão de mão de obra. Todas as empresas que nos contratam têm esse problema. Estão preocupadas com o futuro.

 

 

DINHEIRO ? Isso acontece em todos os setores da economia?


HOLLARD ? Hoje, não encontro um setor que realmente não tenha esse problema. Há, evidentemente, alguns mais aquecidos do que outros e estão sofrendo mais, como mineração, óleo e gás, energia, construção civil e agronegócio. Mas esse é um problema geral. Nos próximos três anos, as demandas dos setores de mineração e óleo e gás serão enormes. Para você ter uma ideia, eles vão absorver todos, absolutamente todos, os novos engenheiros que vão entrar no mercado de trabalho.

 

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“As empresas brasileiras estão exportando profissionais para suas filiais no Exterior”

Prédio da InBev na Bélgica: a cervejaria é comandada por um brasileiro 

 

DINHEIRO ? A que se deve esse apagão?


HOLLARD ? Faltam investimentos em educação, mesmo nos níveis executivos. O que acontece? Os salários estão aumentando muito.

 

 

DINHEIRO ? Quanto?


HOLLARD ? Em funções técnicas, subiram de 15% a 20% desde o início do ano. Um gestor de projeto industrial e um gestor de projeto na construção civil fazem seus preços. É muito difícil encontrar profissionais como esses no mercado. Há um ano, em cada cada dez executivos que recebiam propostas de trabalho, dois recusavam. Hoje, para cada dez chamados, quatro recusam. Isso significa que as empresas estão fazendo de tudo para segurar seus talentos. As companhias enxergam hoje que o custo de perder o executivo é muito maior do que dar um aumento. Se o funcionário for embora, elas terão de contratar um novo, de pagar o valor de mercado, de treinar e vão perder muito tempo. 

 

 

DINHEIRO ? O que mais as empresas estão fazendo para segurar os funcionários?


HOLLARD ? Obviamente, a questão financeira é muito importante. Mas o plano de carreira faz diferença. É preciso mostrar a perspectiva para o executivo para, pelo menos, os próximos cinco anos. Antes as empresas nem faziam isso. Antigamente, as pessoas conseguiam se enxergar na mesma companhia por 20 ou 30 anos. Hoje isso é quase impossível. Os profissionais trabalham mais por projetos ou ciclos. E, como o mundo muda tão rapidamente e as empresas são compradas e vendidas a todo momento, é muito difícil ele ficar.

 

 

DINHEIRO ? Os profissionais são mais infiéis?


HOLLARD ? Hoje, se você comparar o executivo brasileiro com o europeu, é possível perceber que os brasileiros são muito mais voláteis. Eles mudam rapidamente pelo salário e pela oportunidade de emprego. Mas eu acho que estamos entrando em uma fase mais consolidada e, se as empresas conseguirem motivar os funcionários com bons planos de carreira, vão segurá-los.

 

 

DINHEIRO ? Qual é o principal motivo que leva uma pessoa a mudar de emprego?


HOLLARD ? Por incrível que pareça, não é o salário. A principal razão é não ter um reconhecimento ou uma perspectiva de carreira. Nesse apagão de mão de obra, as empresas terão de trabalhar isso e quem fizer melhor vai se destacar no mercado.

 

 

DINHEIRO ? Devido a esse apagão de mão de obra as empresas passaram a aceitar profissionais menos capacitados?


HOLLARD ? O mercado é de oferta e demanda. Se você quer uma pessoa bem preparada, tem que pagar mais. Se não quer pagar mais, terá de contratar uma pessoa menos preparada tecnicamente para a posição. O mercado está aceitando porque não tem opção.

 

 

DINHEIRO ? E profissionais que estavam aposentados? Estão voltando para a ativa?


HOLLARD ? O que estamos vendo é empresas em fase de transição e que estão chamando executivos aposentados ou mais experientes para ajudar nesses processos. No Brasil, tem menos pessoas se aposentando do que em países europeu, como França ou Alemanha. O Brasil está entrando em uma fase que chamamos de bônus demográfico. Isso só acontece uma vez na história de um país. É quando você tem poucas pessoas aposentadas, menos gente nascendo e cada dia mais pessoas entrando na vida ativa. É um ciclo de 30 anos pelo qual um país em desenvolvimento sempre passa. Essa é mais uma chance para o Brasil.

 

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“O setor de óleo e gás vai absorver todos os engenheiros formados nos próximos três anos”

Plataforma de petróleo da Petrobras

 

DINHEIRO ? Quais são as características exigidas para um executivo?


HOLLARD ? Tem que ser flexível, conseguir trabalhar sob pressão e ser multicultural. Também tem de estar sempre alerta às mudanças. Você constrói uma empresa em 30 anos e pode perdê-la em dois minutos. A pessoa tem que se adaptar a uma velocidade como a que estamos vivendo atualmente. Hoje, o executivo que tem uma formação acadêmica ou pós-acadêmica internacional é a bola da vez. Isso porque não são apenas as empresas internacionais que estão contratando esses brasileiros. As companhias nacionais também estão exportando brasileiros para suas filiais fora do Brasil.

 

 

DINHEIRO ? Por que isso está acontecendo?


HOLLARD ? Porque muitas empresas brasileiras estão expandindo suas operações e mostrando que podem competir com as internacionais. O brasileiro tem uma capacidade de adaptação incrível, acha soluções rapidamente e é muito criativo. O Brasil viveu muitas crises nos últimos anos e se adaptou a todas elas. No mundo de crise em que estamos, o brasileiro já teve que se adaptar. Ele é claramente um dos profissionais mais preparados para esse mundo de mudanças constantes.

 

 

DINHEIRO ? Como os estrangeiros estão se adaptando ao mercado brasileiro?


HOLLARD ? Existem empresas internacionais no Brasil que estão com dificuldade para contratar ou que estão perdendo funcionários para empresas brasileiras. Primeiro porque as companhias estrangeiras estão tendo dificuldades de se adaptar às políticas de bônus e níveis salariais do Brasil. Segundo porque as empresas brasileiras estão contratando quem elas querem. Hoje, várias empresas internacionais estão chamando os expatriados para compensar as perdas de profissionais. Além disso, com o câmbio de hoje, o expatriado é mais barato do que o executivo local.

 

 

DINHEIRO ? Existem empresas em que um executivo que ocupa o cargo de direção da filial ganha mais do que o da matriz?


HOLLARD ? Há muitos casos como esse. Há quem ganhe até 25% a mais. 

 

 

DINHEIRO ? Isso causa ciúmes?


HOLLARD ? Essa é a grande dificuldade das multinacionais. Como você vai justificar que um diretor da matriz ganha menos bônus que o da filial no Brasil?

 

 

DINHEIRO ? Ainda que traga um expatriado, o problema continua. Em algum momento, ele vai sair…


HOLLARD ? Isso já está acontecendo. Tem expatriados que estão deixando empresas internacionais para trabalhar em companhias brasileiras. Ou as empresas se adaptam ou perdem espaço. Isso é óbvio!

 

 

DINHEIRO ? Por que o Brasil se encontra nessa situação?


HOLLARD ? O mercado interno está muito bom, as decisões econômicas foram acertadas. A bola da vez é o Brasil. E, paralelamente, você tem uma situação internacional em que as duas regiões que estão crescendo são a América Latina e a Ásia. Se você olhar para a América Latina, o país que está sobressaindo de longe é o Brasil. As empresas internacionais no País e as nacionais estão aproveitando isso. Finalmente, as empresas estão planejando o futuro e os próximos seis anos serão muito bons.

 

 

DINHEIRO ? Essa procura por executivos tem acontecido em todos os Estados brasileiros?


HOLLARD ? Neste ano, vamos contratar três mil executivos, 40% a mais do que em 2009. O

mercado está aquecido no Brasil inteiro. Passaremos de cinco escritórios no fim do ano passado para dez até o fim do ano. Para você ter uma ideia, estamos abrindo escritório no Recife, em Porto Alegre, um segundo no Rio de Janeiro, em Alphaville (SP) e em São José dos Campos (SP). Mas o Rio é o mercado que mais cresce no Brasil. 

 

 

DINHEIRO ? O que tem feito o mercado do Rio crescer mais do que os outros?


HOLLARD ? Há um aquecimento econômico por causa da área de óleo e gás. Você já encontra executivos dizendo que o Rio de Janeiro é a Houston da América do Sul. Você também tem a mineração com a Vale e, fora isso, tem a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Enquanto o Brasil cresce 40% ao ano, o Rio tem crescido até 60%.

 

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