Na mesma semana em que foi reeleito para comandar a Organização Mundial do Comércio por mais quatro anos, o brasileiro Roberto Azevêdo teve de lidar com as duras críticas do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a OMC. Com diplomacia, Azevêdo rebateu Trump e se disse otimista com o multilateralismo. Ele falou à coluna:

A OMC ratificou um de seus principais acordos, o Acordo de Facilitação de Comércio. Quais são as suas expectativas para o segundo mandato? E os principais desafios?
A OMC obteve resultados importantes nos últimos anos, com o Acordo de Facilitação de Comércio, o fim dos subsídios às exportações agrícolas e a expansão do Acordo de Tecnologia da Informação, por exemplo. É importante seguir esta linha nos próximos anos, obtendo resultados sempre que possível. Dito isso, há muita incerteza no radar hoje. Um desafio evidente é lidar com a retórica anticomércio, que cresce em alguns países, e com os riscos de que isso desencadeie medidas unilaterais e protecionistas. Mas, claro, precisamos continuar trabalhando para obter avanços, inclusive porque as circunstâncias ideais não existem.

Qual será o próximo passo da OMC depois da vitória com a assinatura do acordo?
Realmente, a entrada em vigor do Acordo de Facilitação de Comércio foi uma grande vitória. Hoje 113 membros da OMC já estão vinculados a esse Acordo. É importante agora apoia-los na implementação das medidas previstas, para que o Acordo faça diferença na prática, no dia-a-dia das empresas. Além disso, nosso trabalho também avança em outras áreas. Estamos tentando buscar entendimento em temas que já estão na agenda, como é o caso das distorções ao comércio agrícola. Ao mesmo tempo, muitos membros da OMC falam da importância de esforços coordenados para, por exemplo, facilitar investimentos e serviços, simplificando procedimentos, harmonizando as práticas dos países e aumentando a transparência das medidas governamentais. Depois do Acordo de Facilitação de Comércio, que se aplica a bens, cresceu rapidamente o interesse em expandir esse conceito para outras áreas.

Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fazer duras críticas à OMC, o sr. declarou que está disposto a sentar e conversar sobre as preocupações americanas. A posição americana em relação à organização pode ser prejudicial para o comércio mundial como um todo?
Os EUA claramente têm uma série de preocupações relacionadas ao comércio internacional, inclusive sobre a OMC e o sistema de solução de controvérsias da Organização. Estou pronto para conversar e discutir essas e outras preocupações com a equipe de comércio da nova administração americana, assim que eles estiverem prontos. Os EUA são naturalmente um membro muito importante para a OMC e para o comércio mundial. Nós estamos plenamente abertos ao diálogo.

(Nota publicada na Edição 1008 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Aandré Jankavski, Hugo Cilo, Rodrigo Caetano e Paula Bezerra)