O que representou a vista do presidente Macri para o comércio entre Brasil e Argentina?
Eu penso que essa visita foi muito importante. Vimos visitas mais espetaculares, que iam assinar importantes acordos, e certamente foram assim. Essa foi verdadeiramente de trabalho, em que os presidentes trabalharam sobre os problemas concretos e reais do comércio bilateral. O maior problema do comércio bilateral, hoje, são os regulamentos técnicos, as regulações sanitárias, as regulações fitossanitárias, que criam muitos problemas para os exportadores de Brasil e Argentina. É um trabalho muito difícil, ambicioso, minucioso, mas deve ser feito se aspiramos em ter uma livre circulação de produtos do Brasil para a Argentina e da Argentina para o Brasil.

Houve na delegação argentina a sensação de que as questões relacionadas ao comércio bilateral avançaram?
Sim, com certeza. A relação do presidente Macri com o presidente Temer, em geral, o trabalho das duas delegações, é muito sincera, é muito direta, muito concreta. O clima é claramente positivo. Falamos de todos os temas que precisamos resolver, de todos os setores. Não há nenhum tabu, como disse corretamente o presidente Temer. Vamos fazer uma integração franca, vamos resolver os problemas pendentes, remover as barreiras pendentes.

Qual foi o clima no encontro entre os presidentes Temer e Macri?
O clima foi de alinhamento, porque o encontro se deu em uma conjuntura muito particular. Como vimos no ano passado e neste ano, vimos muitas manifestações de povos em todo mundo, na Europa, nos Estados Unidos, expressando, de maneira geral, alternativas eleitorais que expressam uma preocupação com a integração, com a globalização. E isso claramente tem haver com o impacto tecnológico, a mudança de tecnologias, o desemprego. Então, esse foi o grande tema discutido pelos presidentes, como assegurar para países como Argentina e Brasil a economia internacional cresça para atrair nossos produtos, para aumentar nossas exportações. Estamos em um momento em que a economia internacional está crescendo razoavelmente, mas o comércio internacional não está crescendo com o mesmo vigor.

A respeito das barreiras, pelo lado brasileiro existem duas questões polêmicas, a questão dos automóveis e do açúcar. Esses temas foram abordados durante as reuniões? Houve alguma decisão?
Esses temas são sempre abordados pelos ministros. Na semana anterior à visita do presidente Macri, tivemos aqui em Brasília uma delegação de quase 50 funcionários argentinos, para a [reunião da] Comissão Bilateral de Comércio. E nessa Comissão se falou do tema automotor, do tema do açúcar. Se falou das exportações de calçados, de têxteis, se falaram de todos os temas que Brasil e Argentina tem que falar. Sempre temos conversas sobre esses temas e sempre haverá alguma empresa, algum setor, para visitar algum aspecto, mas sempre em um ambiente de concordância. Estamos falando para tratar de todos os temas. Nenhum tema será excluído, nenhum tema que seja motivo de conflito.

No caso da questão dos automóveis, existe uma expectativa de que as barreiras comerciais sejam retiradas em 2020. Mas esse prazo representa um adiamento em relação a outros. O Sr, acredita que dessa vez ele será respeitado?
Eu já fui ministro da Indústria da Argentina. Eu assinei o Acordo de Assunção. Eu lembro que nós falamos do comércio livre de automóveis em 2000, eu lembro disso muito bem. Depois, não foi possível por distintas razões, eu não posso explicar porque não era ministro. Mas acho que o compromisso assinado pelo ministro Francisco Cabrera, da Argentina, e por Marcos Pereira, do Brasil, é um compromisso sincero e as duas partes estão trabalhando para encontrar a melhor maneira de fazer uma política automotora comum para o Mercosul. Porque, o mais importante é que Argentina e Brasil defendam essa parte do mundo como uma plataforma forte para a produção e exportação de automóveis.

A economia da Argentina passou o ano passado em um período de ajustes e a expectativa para esse ano é boa. Como isso se refletirá no comércio com o Brasil?
Os dois países se beneficiam quando a economia cresce. Vimos grandes ciclos de comércios nesses momentos [de crescimento]. A Argentina vai crescer muito forte neste ano, mais forte que as projeções do FMI, e acredito que a inflação baixará fortemente. E o Brasil vai poder aproveitar essas melhoras, assim como a Argentina aproveita aqui quando a economia não cai tanto. Ano passado, houve uma queda [do PIB do Brasil] de 3,3% e a Argentina perdeu quase 1% do seu PIB, com as exportações de produtos industriais. Então, o crescimento das duas economias é muito importante.

Uma das preocupações da Argentina é o déficit contínuo na balança comercial com o Brasil. Como isso será resolvido? Essa continua sendo uma preocupação?
Eu não posso falar de cada detalhes específicos de cada setor, porque isso é algo para os ministros. Não vou falar como faremos isso, porque isso é algo para as equipes técnicas que estão trabalhando. Creio que há muitas soluções criativas que podem ser utilizadas, dentro de um ambiente construtivo.