Depois do estica e puxa nas contas durante a pandemia, o Gympass voltou a acelerar sua expansão no mercado. As semanas entre março e abril de 2020 foram de apreensão para o negócio, que à época dependia da reabertura das academias para entregar o que vendia: acesso a atividades físicas na rede parceira. Foi hora de adiantar um projeto que já vinha sendo pensado (e era previsto para ser implementado só dentro de um ano) e apontava o futuro da startup com uma plataforma integradora de soluções de saúde e bem-estar.

Mas o projeto não poupou a operação dos cortes: 20% dos cerca de 1,3 mil funcionários foram demitidos. De lá para cá, a empresa conseguiu se recuperar, com 60% mais visitas às academias parceiras hoje do que antes da pandemia, e chegou a dobrar o valor de mercado, atualmente em US$ 2,2 bilhões, depois do último aporte, de US$ 220 milhões, liderado pelo Softbank em junho passado. O sucesso da retomada imprime um ritmo otimista para 2022, quando a empresa prevê crescer 30% só no Brasil, aumentar presença nos EUA e expandir a equipe em 36%, ultrapassando 1,5 mil funcionários até o fim do ano.

Priscila Siqueira, CEO da startup no País, explica que os números já levam em conta uma cautela com a Ômicron e novas variantes da Covid-19. “Estamos mais preparados para uma possível nova onda de fechamentos”, disse em entrevista à DINHEIRO. A executiva se refere ao avanço dos planos de se tornar uma espécie de superapp do bem-estar, estratégia que considera já bem encaminhada. Há dois anos, o Gympass oferecia apenas acessos para treinos presenciais nas academias parceiras. Hoje, a plataforma já reúne mais de 60 aplicativos, com serviços que vão de aulas on-line, acompanhamento nutricional, terapia e educação financeira até sessões no app Calm, para meditação. “Em muitos clientes, nossa interlocução migrou do departamento de RH para o de saúde”, afirmou Priscila.

CORPO E MENTE A plataforma reúne mais de 60 aplicativos, com aulas on-line, terapia e até meditação. (Crédito:Divulgação)

Com a compra da Trainiac, aplicativo de personal training on-line, no mês passado, o Gympass busca atingir a sua principal meta para o ano: crescer nos EUA. Ao contrário do que acontece no Brasil, o mercado americano está concentrado nas mãos de grandes grupos. “Foi uma aquisição motivada pela tecnologia”, disse a executiva. Ela complementa que a plataforma é estratégica ainda para melhoria da interface e para consolidação da marca lá fora, onde a concorrência é acirrada. Tanto que o unicórnio correu para disponibilizar a solução aos clientes nos EUA neste início de ano, enquanto a implementação global acontecerá em etapas até o fim de 2022.

CRESCIMENTO O Gympass tem 3 mil clientes corporativos e, embora não abra o número de usuários do app, trata-se de uma carteira com titãs como Banco do Brasil, Petrobras, Santander e Unilever. Somente estes, somados, têm cerca de 190 mil colaboradores no País e demandam penetração de 95% no território nacional. Um desafio possível para a plataforma, que, além de digitalizar seu produto, tem uma rede que cobre 90% do mercado brasileiro de academias. A fórmula que a startup criou para se consolidar, no entanto, é alvo de acusações sobre práticas anticoncorrenciais, em função da cláusula de exclusividade que estabelece com as academias. Por meio de nota, a empresa defende o formato de exclusividade como forma de substanciar os investimentos nos parceiros, especialmente durante a pandemia, e afirma seguir a decisão liminar de suspensão do termo em novos contratos enquanto aguarda a decisão do Cade sobre o assunto.

À margem desse resultado, o Gympass enxerga uma avenida estratégica para crescer: as pequenas e médias empresas. A plataforma foi recentemente atualizada com um canal para o segmento de PMEs com no mínimo dez funcionários – universo de 500 mil empresas no Brasil, segundo o IBGE. Tem a operação altamente capilarizada a seu favor, além de novas soluções digitais, como um módulo de terapia on-line, demanda que cresceu 69% no último ano. “O maior desafio agora é evangelizar nossos clientes sobre nosso novo posicionamento como plataforma de bem-estar e aumentar o engajamento dos usuários”, afirmou Priscila.