Na guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada no dia 24 de fevereiro, quem está ganhando mesmo são as criptomoedas. Após a imposição de pesadas sanções econômicas pelo Ocidente, que incluiu a exclusão do sistema de trocas financeiras swift, os russos tentam driblar as dificuldades para manter sua economia funcionando de forma paralela utilizando as moedas virtuais. Em pouco mais de três semanas de conflito as negociações com criptoativos no território russo aumentaram 231%, segundo dados da empresa de investimentos em ativos digitais CoinShares. Do outro lado da trincheira, a Ucrânia, sob forte ataque, tenta sobreviver física e economicamente, após o fechamento de bancos e desvalorização da moeda local. Para isso, os ucranianos também recorreram aos criptoativos, elevando o volume negociado em 107% no período.

Desde que foram criadas, em 2008, esta é a primeira vez que as moedas digitais estão inseridas em um contexto de guerra. E por sua forma de operar, de maneira descentralizada, sem depender de governos ou bancos, essas moedas conquistam não apenas investidores comuns, mas também quem tenta superar as dificuldades de um conflito armado. “Pela primeira vez na história US$ 100 milhões em doações chegaram rapidamente para ajudar as pessoas na Ucrânia. E isso só pode ser feito por causa das criptomoedas”, afirmou o CEO e fundador do marketplace Conztellation, Isielson Miranda.

Não é a toa que nos últimos dias o valor dos criptoativos disparou e o bitcoin, por exemplo, chegou ser negociado acima de U$ 44 mil, no início de março, atingindo a maior alta em um ano. Segundo Miranda, desde seu surgimento, as criptomoedas são uma alternativa muito poderosa para movimentar economias, diversificar investimentos e proteger o patrimônio. “Quando todo o mundo coloca sanções contra um país cuja economia é imensa como a Rússia, a possibilidade das criptos correrem por fora é muito grande. E seria ainda maior se houvesse também a troca dessas moedas de pessoa para pessoa, o chamado P2P”, afirmou.

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“As moedas virtuais ajudam, mas não conseguiriam atender completamente uma economia grande como a russa” Isielson Miranda CEO da Conztellation.

Mas as incertezas desse mercado, que normalmente é muito volátil, pioraram afastando investidores, que preferiram deixar esses ativos por enquanto. Assim, as cotações caíram, voltando ao patamar dos US$ 39 mil. Segundo o CEO e fundador da Monnos Cryptobank, Rodrigo Soeiro, a Rússia e a Ucrânia já estavam bem posicionadas em criptos. “Por isso conseguiram até custear as operações com essas moedas. Mas ainda há muita incerteza, e a aversão ao risco afastou muitos investidores”, disse Soeiro.

LIMITAÇÃO As vantagens das criptomoedas se mostraram relevantes durante a guerra. Mas, para Miranda, tudo tem um limite. “O mercado de criptomoeda hoje gira em torno de US$ 2 trilhões.” Ou seja, a economia russa representa 75% do mercado mundial de criptomoedas. “Não seria possível atender todas as necessidades”, disse o CEO do Conztellation. Ele lembra ainda um segundo problema. “E mesmo que se consiga comprar criptos, quando precisar transformar em outras moedas não será possível, porque o mercado financeiro na Rússia está travado.”

Um impedimento que, especula-se, tem sido contornado em outros países. Já há informações de que as empresas de criptos dos Emirados Árabes têm recebido pedidos para liquidar bilhões de dólares em moeda virtual. Uma das explicações é que os bilionários russos estariam buscando refúgio seguro para suas fortunas. Alguns usariam as criptomoedas para investir em imóveis nos Emirados e outros tentam transformar o dinheiro virtual em moeda forte para guardá-lo em outro lugar. Por isso, as negociações para regular os ativos virtuais devem avançar. Segundo o fundador da consultoria Spiralem Inovation Consulting, Bruno Diniz, os criptoativos ganharam evidência por serem fáceis de circular e inconfiscáveis. “Países como Brasil e Estados Unidos pensam em controles que ajudem a dar mais segurança aos investidores.”