A guerra na Ucrânia completa três meses nesta terça-feira (24), com os combates concentrados no leste do país, onde as tropas da Rússia pretendem acabar com os últimos focos de de resistência na região de Lugansk, na bacia de mineração do Donbass.

Depois de afastar as forças invasoras das duas grandes cidades do país, a capital Kiev e Kharkiv (nordeste), os ucranianos admitem “dificuldades” para conter o avanço russo no Donbass, que inclui as regiões de Lugansk e Donetsk.

“As próximas semanas de guerra serão difíceis”, advertiu na segunda-feira à noite o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

“Os ocupantes russos se esforçam para demonstrar que não abandonarão as zonas ocupadas da região de Kharkiv (nordeste), que não entregarão a região de Kherson (sul), os territórios ocupados da região de Zaporizhzhia (sudeste) e o Donbass (leste)”, insistiu.

A situação é “extremamente difícil” no Donbass, onde os russos tentam “eliminar tudo o que está vivo”, afirmou Zelensky.

As Forças Armadas ucranianas afirmaram nesta terça-feira no Facebook que as tropas russas executam “operações ofensivas” ininterruptas na região e acrescentaram que “o inimigo está aplicando fogo intenso em toda a linha de contato”.

– Alvo: Severodonetsk –

A Rússia concentra o ataque no reduto de resistência ucraniano de Lugansk, com a tentativa de cercar as cidades de Severodonetsk e Lysychansk, separadas pelo rio Donets.

O Ministério da Defesa da Ucrânia anunciou combates perto das duas cidades, nas localidades de Popasna e Bakhmut, ao sul e sudoeste, o que sugere uma tentativa de cerco.

Apesar dos bombardeios, muitos moradores se recusam a fugir. “As pessoas não querem sair”, lamentou o vice-prefeito de Bakhmut, Maxim Sutkoviy, diante de um ônibus vazio que deveria afastar os civis da frente de batalha.

Severodonetsk é bombardeada “as 24 horas do dia” pelos russos, que adotam a a tática de “terra arrasada”, afirmou o governador de Lugansk, Sergei Gaidai.

Depois da queda de Mariupol, destruída por um longo cerco, Severodonetsk representaria uma grande conquista de Moscou no Donbass, controlado parcialmente desde 2014 por separatistas pró-Rússia.

– “Avanço” para Kherson –

Iniciada como uma ofensiva total sobre a Ucrânia em 24 de fevereiro, a invasão se concentra agora no leste e sul, onde a Rússia controlava desde 2014 a anexada península da Crimeia e tomou no início do conflito a cidade de Kherson.

A frente de batalha do sul parece estável, mas os ucranianos anunciam avanços.

O comando sul das tropas de Kiev anunciou na segunda-feira um “avanço” de suas divisões “na região de Mykolaiv em direção a Kherson”, onde os ocupantes passaram a usar a moeda russa, o rublo.

Enquanto Moscou aumenta a pressão no Donbass, Kiev multiplica os apelos aos países ocidentais para receber mais armas.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, anunciou que quase 20 países ofereceram novos pacotes de assistência em segurança para a Ucrânia.

Entre o material entregue pelos ocidentais está o sistema lança-mísseis antinavios Harpoon, prometido pela Dinamarca, que pode permitir à Ucrânia romper o bloqueio naval imposto pela Rússia no porto de Odessa, no Mar Negro.

Além de cortar todas as saídas marítimas da ex-república soviética, o bloqueio também paralisa a exportação de milhões de toneladas de trigo deste grande produtor agrícola, uma situação que pode desencadear uma crise alimentar global.

– Oito milhões de deslocados –

As consequências do conflito são cada vez maiores: os preços da energia dispararam e o mapa de segurança da Europa deve mudar, com os pedidos de adesão à Otan de Suécia e Finlândia.

Em três meses, milhares de pessoas, civis e militares, morreram, mas não há um balanço preciso. Somente em Mariupol, as autoridades calculam 20.000 vítimas fatais.

No nível militar, o governo ucraniano afirma que mais de 29.200 russos morreram, mas fontes militares ocidentais citam quase de 12.000 soldados.

O Kremlin admitiu “perdas significativas”, enquanto Kiev não divulgou nenhuma indicação de suas perdas militares.

A guerra também teve um impacto brutal na demografia do país, que tinha quase 37 milhões de habitantes antes da invasão.

A Ucrânia tem oito milhões de deslocados internos desde o início da guerra. Outros 6,5 milhões fugiram para o exterior.