A filosofia define que a história do universo é uma história de crises. Foram crises no ramo do pensamento, da economia, da ciência e da política que motivaram grandes mudanças e rupturas que transformaram a sociedade no que ela é hoje – para o bem, e para o mal. E o momento atual parecer ser mais um desses pontos de inflexão. Diante de uma pandemia letal e uma guerra na Europa, a primeira em décadas, a economia global dá mais um passo em direção a uma forte crise econômica. Com ela virão também novos parâmetros sociais, de riqueza e comércio interpaíses. Pelo menos é o que apontam pesquisadores, economistas e professores da Oxford University, na Inglaterra. Mesmo recuperando quase integralmente a riqueza perdida em 2020, em função da pandemia, o mundo vai experimentar um aumento de concentração de renda, disparidade social e redução das democracias que mudarão a forma como as relações internacionais eram feitas até 2019.

Segundo o professor Alan Beggs, um dos autores do estudo, a Covid-19 é, em termos financeiros, a quarta pior crise econômica do mundo em 150 anos. Ficando atrás apenas das crises de 1930 (-17,6%), 1945 (-15,4%) e 1914 (-6,7%). O problema é o que veio depois da pandemia. “Quando engatamos uma pandemia com essa força de contração econômica e na sequência uma guerra com capacidade real de afetar o abastecimento energético da Europa, temos uma combinação perigosa”, disse à DINHEIRO. Sarah Clifford, professa de finanças e macroeconomia cita também os problemas que os grandes conglomerados econômicos têm trazido para o desenvolvimento global. “Em especial na China, o crescimento pujante de empresas, como a Evergrande, colocam uma quantidade desproporcional de capital e risco nas mãos de um único player”, disse ela.

Com essa junção de fatores, os professores entendem que o mundo deve experimentar nos próximos anos uma revisão estratégica. “Os países vão olhar para dentro, em especial para o abastecimento de produtos essenciais, como gás”, disse Beggs. Nessa toada, os países ricos se tornarão cada vez mais autônomos o que tende a aprofundar o abismo social com as economias menos desenvolvidas. “Para países como a Índia e o Brasil, por exemplo, há riscos de uma estagnação econômica por haver menos capital estrangeiro disponível para investimento”, disse Sarah.

BRASIL E para atrapalhar ainda mais esse processo, a ascensão de líderes políticos com mens apreço democrático e discursos conservadores acelera a gravidade da situação. “O Brasil mostra como uma economia diversificada e com potencial pode perder espaço no mundo por causa de um caminho político”, disse Beggs. Ele cita Colômbia, Honduras e Peru como potenciais países a ingressarem em outra “cilada política com efeitos horríveis para a economia”. Parte da solução, diz ele, está no fortalecimento de blocos econômicos, como Brics e Mercosul. “Esse tipo de aliança será fundamental para que os países emergentes não se reduzam à exportação de commodities e não consigam sair desse ciclo.” Mais uma crise que transforma o mundo, mas essa pode não ser para o bem.

Evandro Rodrigues