Nos últimos dias, coturnos de couro e fardas camufladas se tornaram tão comuns nos corredores dos maiores hospitais dos Estados Unidos quanto os jalecos azuis e as sandálias Crocs de borracha dos profissionais de saúde. Desde a sexta-feira (14), o Exército da maior potência militar do planeta está empenhado na missão de ajudar os médicos no controle do avanço da variante ômicron no país. Por decisão do presidente Joe Biden, os militares têm dado suporte logístico aos centros de atendimento, com a distribuição de alimentos, água e medicamentos, além de organizar filas e realizar a triagem dos pacientes. Os militares também estão encarregados de fazer mais de 500 milhões de testes (número maior do que a população americana, de 330 milhões de pessoas), além de distribuir máscaras mais eficazes na filtragem do ar.

“Nossa meta é comprar 1 bilhão de testes para atender à demanda futura e garantir o o controle do vírus nos próximos meses”, afirmou Biden, em entrevista coletiva, ao anunciar a estratégia de guerra contra o vírus. Em uma primeira etapa, seis estados em situação mais crítica na ocupação dos hospitais receberão prioridade de atendimento do Exército: Michigan, New Jersey, Novo México, Nova York, Ohio e Rhode Island. Além dos soldados, 120 médicos militares foram designados para reforçar os times de saúde em UTIs. Até o fim deste mês, segundo o presidente Biden, mais de 1 mil militares estarão engajados no suporte a médicos, enfermeiros e hospitais.

O PLANO DE BIDEN EUA têm mais testes disponíveis do que habitantes. Presidente diz que testagem em massa é a solução. (Crédito:AP Photo/Andrew Harnik)

Parte da ofensiva contra o vírus será o incentivo à testagem doméstica. Os exames serão enviados às casas dos americanos pelos correios. Os cidadãos que testarem positivo poderão fazer a reavaliação em mais de 20 mil locais de testagem em todo o país, e serão colocados em isolamento e proibidos de frequentar ambientes de trabalho e escola.

Na avaliação da infectologista e professora de gestão de saúde na Universidade do Texas Lauren Ancel Meyers, a pandemia ensinou que as medidas mais efetivas para barrar a proliferação da doença são a testagem frequente em massa, o isolamento imediato dos contaminados e a vacinação. Segundo ela, apesar de parecer um custo alto na aquisição dos testes e na montagem das estruturas de atendimento, todos os estudos feitos até agora comprovam que essa abordagem é uma maneira eficiente de salvar vidas e reduzir os riscos de internações e mortes. “O que parece um gasto se torna benefício econômico e salvação de vidas.”

PATRIOTISMO O presidente Biden apelou ao espírito patriótico do povo americano para tentar vencer a resistência de parte da população às medidas mais restritivas de isolamento, ao uso de máscaras e à vacinação. “Como tenho dito nos últimos dois anos, por favor, usem máscaras.”

“Controlar a doença faz parte do seu dever patriótico”, afirmou, antes de anunciar o plano de distribuição de máscaras gratuitas e de alta qualidade, que são melhores na prevenção da infecção. Especialistas dizem que as máscaras KN95 e N95 protegem melhor contra a variante ômicron do que as máscaras de pano ou cirúrgicas que muitas pessoas usam.

Com o surgimento da ômicron houve uma disparada no contágio. Nos últimos dias, a média ficou acima de 780 mil confirmações por dia. Embora aparentemente a variante cause sintomas menos graves, o número de americanos hospitalizados com Covid-19 atingiu um recorde de cerca de 142 mil.

Parte do problema é atribuído às festas de fim de ano, quando o país passou a registrar recordes diários de novos casos, e ultrapassou a marca de 1 milhão de infecções em um único dia. O alto número de infectados quase levou ao colapso postos de saúde e hospitais. A alta nos EUA impulsionou o aumento do número de infecções em todo o mundo, que registrou 3,6 milhões de casos na terça-feira (18). Diante desses números, fica mais do que explicada a ofensiva de guerra contra a nova onda da pandemia.