A guerra entre Rússia e Ucrânia tem provocado desajustes nas cadeias de produção pelo mundo. Problemas como a falta de matéria-prima afetam diversos setores da indústria e, além de muitas vezes impossibilitar, atrasam a entrega de encomendas, caso, por exemplo, de veículos pelas montadoras. E o segmento de automóveis eletrificados também sente os impactos do conflito na Europa e num ponto crucial para o seu funcionamento: a rede de eletropostos. A falta de componentes já afeta a produção de carregadores, situação que deve se agravar se as fabricantes continuarem a enfrentar irregularidade na distribuição de insumos. O alerta é feito por Gustavo Tannure, CEO da Easy Volt. “Não há mais carregadores para pronta-entrega no País”, afirmou.

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A marca, também conhecida como EZVolt, é referência em redes de carregadores no País, com mais de 150 pontos em nove estados – o montante supera os 350 se forem contados os equipamentos localizados em prédios residenciais, foco principal. A meta é alcançar 1 mil pontos até o final de 2022, mas a bandeira tem encontrado dificuldades para adquirir os aparelhos.

A falta de componentes é uma das justificativas reveladas pelo executivo para a demora no recebimento dos equipamentos, prazo que pode levar de 60 dias, no caso dos wallbox (carregadores rápidos), a 120 dias, numa referência aos ultrarrápidos, encontrados principalmente em estradas. A situação se complica quando os pedidos envolvem maior volume. Diante da situação, o jeito tem sido escalonar as demandas. “Num pedido de tipo 500 carregadores, a saída foi receber 150 em um mês, outros 150 no seguinte e o restante (200) no posterior. Estamos fazendo as programações.”

Tannure revela reuniões frequentes com fabricantes, como ABB, Weg, Siemens, Schneider, Nansen e E-Wolf, a maioria delas multinacionais europeias. “Estamos dando uma movimentada no mercado. Mas não há pronta-entrega.” Para complicar, o CEO constatou aumento de 20% nos preços dos equipamentos desde o ano passado. O valor médio inicial para aquisição de um carregador domiciliar é de R$ 6 mil, enquanto um para abastecimento em estrada sai por R$ 600 mil. “Não sei dizer se é reflexo cambial ou inflação. Mas o custo aumentou.”

A dificuldade para obtenção dos carregadores é confirmada por Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá Energia, uma das pioneiras na operação de rede de eletropostos pelo País. A empresa tem 100 pontos próprios pelo Brasil e a estimativa de alcançar 1 mil até o final do ano. A saída da startup na atualidade tem sido trabalhar com estoque mínimo. “Estamos replanejando os próximos passos com muita atenção e antecedência para tentar não sofrer”, disse. Segundo o executivo, além da questão da pandemia, a guerra obrigou as empresas a promoverem alterações incomuns nos cronogramas, pois grande parte das peças dos aparelhos vem da China.

Bertoncello acredita que a dificuldade de acesso aos insumos pelas fabricantes pode trazer grandes complicações para a questão da mobilidade elétrica, justamente por causa do momento do mercado – apresentou alta de 93% em janeiro de 2022 na comparação anual. “Essa fase de crescimento acelerado precisa ser impulsionada pela facilidade de acesso a esses hardwares”, disse. “A questão da guerra preocupa e dependendo do quanto durar poderá impactar na expansão da malha elétrica no Brasil. Atualmente, são cerca de 1 mil eletropostos no País com a previsão de chegar a 3 mil até o final de dezembro, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico.