Tudo levava a crer que o ministro da Economia, Paulo Guedes, era carta fora do baralho de um eventual segundo governo de Jair Bolsonaro. Mas o “Chicago boy”, que começou sua jornada como superministro da Economia e foi definhando em poder de decisão e influência no governo com o passar dos anos, agora retoma seu lugar de prestígio ao lado do mandatário do Executivo.

Em 60 dias, ele emplacou dois importantes cargos dentro do governo: Adolfo Sachsida como ministro de Minas e Energia e agora Daniella Marques à frente da Caixa. Com essas duas peças, Guedes finalmente pode voltar a ser chamado de Posto Ipiranga, apelido que recebeu de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, e garante sua permanência no cargo.

Nova presidente da Caixa é vista como “braço direito” de Guedes

A escolha e a aprovação de Daniella no comando do banco público foram tidas por aliados do ministro como uma vitória, já que a economista faz parte do dream team escolhido por Guedes início do mandato Bolsonaro. Ela, que esteve ao lado do ministro desde a transição de governo, assumiu primeiro a Assessoria Especial de Assuntos Estratégico e em fevereiro passado migrou para a Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade. Mas a história de Daniella com Guedes começou antes, quando ela foi sócia dele na Bozano Investimentos, onde atuou como Diretora de Compliance e Operações e Financeiras (COO e CFO).

Na prática, a chegada de Daniella resolve dois problemas de Guedes: primeiro o controle e de gastos da Caixa, alinhado as estratégias mais conservadoras e moderadas do ministro. O segundo é tirar de vez o ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, do quadro de economistas próximos ao presidente. Em alguns momentos de alta tensão e fritura de Guedes, Bolsonaro chegou a insinuar que trocar o comando da Economia seria apenas uma mudança de “Paulo para Pedro”. Com bons números para apresentar de sua gestão à frente do banco, Guimarães também era figura frequente nas lives de quinta-feira promovidas pela presidência da República. Por lá ele anunciava seus ambiciosos planos de equiparar a Caixa ao Branco do Brasil na oferta de crédito para o agro, se gabava de ter tirado todo aparelhamento político da instituição e melhorado os lucros em sua gestão – números que condizem com a verdade, diga-se.

Guimarães também era bem quisto por empresários, em especial os ligados à indústria da construção civil. Não foi a primeira vez que cogitou-se a saída de Guimarães, mas havia forte resistência do empresariado. Agora, diante da investigação de assédio e renúncia do executivo, a transição precisou ser mais fácil. A chegada de uma nova presidente pode atrapalhar o ritmo de concessão de empréstimos que Guimarães introduziu em sua gestão, muito em função do olhar mais conservador de Guedes que a nova executiva traz consigo.