Assim como seu tutor político, o ministro Paulo Guedes é uma fraude sem precedentes da história da República. O aluno da Escola de Chicago abandonou a cartilha liberal de George Stigler e Milton Friedman, prêmios Nobel de Economia, para se tornar numa espécie indefinida de economista. Descrevê-lo é missão quase impossível. Poderia ser chamado de privatista que não privatiza, de anti-pobre populista, de neoliberal intervencionista ou de austero perdulário. Por mais contraditório que pareçam, todos esses rótulos ajudam a definir – ou a confundir – as características predominantes de sua personalidade.

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Nos últimos dias, Guedes deixou aflorar outras duas falhas de sua genética. A primeira, o medo primitivo de perder o cargo e sair pela porta dos fundos do Ministério da Economia. Embora seus mais de US$ 10 milhões no exterior possam lhe dar uma vida confortável pelos anos que restam, terminar a carreira como vira-casaca e fantoche de um presidente anencéfalo desperta seu instinto de sobrevivência. A segunda, e mais grave das suas falhas de caráter, é o hábito de furar com a palavra. Ao se prostrar de joelhos diante de um presidente sem plano, sem rumo e sem moral, Guedes trai suas próprias convicções (se é que as teve, algum dia) e a de todos que na última eleição depositaram confiança em sua pseudo-competência. Guedes não só furou o teto de gastos. Furou o combinado.

O aumento do risco fiscal, a quebra de confiança com o mercado, o ceticismo na bolsa, a disparada do dólar, a inflação galopante, o desemprego, a fome, o risco de desabastecimento, entre tantas outras tragédias, serão as marcas registradas de um ministro que, até aqui, tem um papel figurativo e irrelevante. O fuzuê econômico sob sua gestão vai custar (e já custa) muito caro ao País. Em vez de assumir sua completa falta de condição de seguir no cargo, como fez o fundador da Localiza, Salim Mattar, e tantos outros da equipe econômica, Guedes insiste no erro. Repetidamente, tenta acalmar os ânimos do mercado com frases de efeito, performance teatral com as mãos e comparações surreais. Na sexta-feira (21), afirmou que prefere “nota oito em fiscal, em vez de dez, para atender aos mais frágeis”. Ruim de piada… Para chegar à nota oito, Guedes e Bolsonaro precisariam subir nove, no mínimo.

Ao tentar pedalar com os precatórios, manobrar a lei fiscal e criar um rombo impagável para os próximos governos, Guedes aumenta, com a habilidade de um furão, o buraco em que a economia está enfiada. O problema é que, ao desocupar em 2022 os cargos que hoje ocupam, deixarão uma herança maldita aos que virão e, principalmente, à economia brasileira.