Ainda é cedo para dizer que o ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou o jogo em sua missão de fazer do Brasil um país liberal e em pleno crescimento. Mesmo assim, nos bastidores do prédio da Pasta, no Eixo Monumental em Brasília, o tom geral é que, em alguns aspectos, ele já lavou as mãos. Aos aliados, Guedes teria dito que, neste momento, a solução do Brasil não passa por suas obrigações. Elas residem principalmente na política.

Assessores próximos ao Guedes ouvidos pela DINHEIRO disseram que o foco geral é buscar formas de viabilizar o programa social de transferência de renda que substituirá o Bolsa Família. E o presidente Jair Bolsonaro disse que quer uma solução até novembro. Estão nesse esforço os ministros Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos). E apesar de ter um peso importante para os planos de reeleição do presidente Bolsonaro em 2022, a empreitada tem relevância pequena para o sonho liberal do Chicago Boy.

Guedes defende novo IR e pede a grandes empresários ‘um pouco mais de cidadania’

Outro fator de contaminação política na economia é CPI da Covid, que tem investigado suspeita de corrupção e prevaricação na compra de vacinas. A CPI deve deixar, nas duas próximas semanas, o empresariado mais apreensivo com o futuro do País. Para tentar diminuir essa impressão ruim, Guedes quer aproveitar a janela do recesso parlamentar. Com os deputados parados a  partir de 17 de julho, o plano é fortalecer a agenda positiva do governo com medidas que não dependem de aprovação do Legislativo.

A primeira delas deve ser na área do emprego, por meio de um programa de treinamento para jovens até 28 anos. A faixa etária é uma das mais afetadas pelo desemprego que hoje atinge 14,8 milhões de pessoas. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Domicílios, 40% dos jovens hoje estão fora do mercado de trabalho. Segundo Guedes, eles “não tiveram treinamento de trabalho” e não têm “a oportunidade de estarem estudado”. Ainda sem bater o martelo sobre de onde virão os recursos para o programa, o ministro estuda uma intersecção entre o BIP (Bônus de Inclusão Produtivo) com o BIQ (Bolsa de Incentivo de Qualificação).

A outra medida seria flexibilizar o uso do seguro desemprego. Na prática, a empresa poderia oferecer o auxílio desemprego para as pessoas sem efetuar a demissão, algo parecido com o que hoje é feito pelo BEm. Segundo Luís Felipe Batista de Oliveira, diretor de programa da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, “a política do seguro desemprego hoje privilegia o desemprego e a empresa que demite premia o trabalhador que fica desempregado”, disse.

Se conseguir emplacar medidas que ajudam na criação de emprego, o ministro ganhará pontos com Bolsonaro, que poderá usar uma estratégia de blindagem parecida com a de Michel Temer em um passado recente. Em 25 de outubro de 2017, em votação na Câmara sobre abertura de uma investigação contra o então presidente Temer, 255 deputados disseram ser contrários à abertura do processo “em nome da economia”, que no período estava reagindo após recessão a gestão Dilma Rousseff. A diferença entre os dois chefes do Executivo é que a relação de Temer com o Congresso era infinitamente melhor que a do atual ocupante do Palácio da Alvorada.