Um superministério da Economia para ser comandado por um superministro. Essas eram as credenciais que Paulo Guedes apresentava quando, em 2018, embarcou na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. Em quase três anos de cargo, Guedes passou de imprescindível para um apêndice. Sem grandes vitórias para mostrar ao mercado que o aceitara como fiador do governo e mais distante do que nunca da cadeira de conselheiro do presidente da República, Guedes resolveu focar sua atenção no futuro. Até lá, o ministro terá de reunir esforços para o projeto de reeleição de seu chefe e, quem sabe, conseguir emplacar sua agenda liberal em um eventual próximo mandato. O plano até pode parecer bom, mas ele fere a regra número 1 de quem brinca de futurologia: sem absorver o presente fica difícil prever o amanhã e impossível acertar o que virá depois.

A regrinha da previsão do futuro vale em muitas frentes. Astrólogas, empresas de tecnologias, produtores de filmes de ficção científica e até no mundo dos investimentos de risco — este, de maior familiaridade para Guedes — valem-se da tríade para fazer previsões mais verossímeis. E a realidade posta não é tão favorável para o “Chicago boy”. Na última semana, Guedes precisou abrir mão da Secretaria do Trabalho e Emprego, que voltou a ganhar status de ministério para acomodar Onyx Lorenzoni depois de uma troca de cadeiras de ministros para receber Ciro Nogueira, senador do PP, que assume o coração do governo ao comandar a Casa Civil. Foi uma vitória do centrão. Entendendo que evitar a recriação do Ministério do Trabalho seria uma luta inglória, Guedes focou na política de redução de danos pensando no futuro. Para isso, transformou a Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria em Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento. Com isso Guedes concentrou o Orçamento em uma área com menos chances de sair de sua tutela, caso o presidente reviva outro ministério.

DE VOLTA AO TRABALHORecriação do ministério que funcionava como secretaria tira das mãos de Guedes controle sobre Previdência e FGTS. (Crédito:Renata VerÌssimo Gomes)

DESAFETOS Com essa jogada, Guedes abriu mão da Secretaria do Trabalho, mas não do cofre, e Onyx assume sua terceira cadeira de ministro em um cargo quase virtual, com aliados de Guedes afirmando que a nova pasta receberá “apenas o necessário” para ser viável. À DINHEIRO, um dos secretários de Guedes confirmou que o Ministério do Trabalho terá que apresentar políticas públicas de emprego viáveis “até que Onyx precise se licenciar para concorrer às eleições de 2022.”

Nos bastidores, uma tensão se agravou na terça-feira (27). Assessores de Onyx e políticos que são desafetos de Guedes deixaram claro que, como ficou desenhado, o Ministério do Trabalho segue muito dependente da Economia. Decisões importantes seguirão sob aval de Guedes, na forma de “consultoria jurídica”. Ainda assim, segundo a Medida Provisória publicada na quarta-feira (28), ficou determinado que Onyx responderá pelo FGTS e pelo FAT, dois dos mais importantes fundos de gestão de trabalhadores, além de comandar a Previdência Social e a complementar.

Chamado por deputados da oposição de “Puxadinho do Trabalho”, o novo ministério vai garfar menos de 40% do Orçamento da Economia. O valor é menos da metade 85% estimados inicialmente e está em linha com os planos de Guedes de reforçar a agenda positiva do governo com políticas de emprego e programas sociais para retomar a popularidade de Bolsonaro. Em um segundo mandato, quem sabe, Guedes volte a ser liberal.

ENTRADA FESTIVA O senador Ciro Nogueira após se encontrar com Bolsonaro e definir sua posição na Casa Civil. (Crédito:Cristiano Mariz)

O único problema desse plano, segundo um deputado governista, é que “talvez Guedes saia antes disso.” A fala do deputado, em condição de anonimato, deixa claro os interesses do Centrão no governo. Em uma articulação em curso, o plano é pressionar Bolsonaro para recriar o Ministério do Planejamento, o que tiraria o controle de Guedes do Orçamento. Se a máxima da previsão do futuro está certa, é bom Guedes entender melhor o que acontece agora para tentar garantir que estará no governo amanhã.