A diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, reforçou que o Comitê de Política Monetária (Copom) está focado na convergência da inflação à meta em 2022 e que há conforto e confiança que o ritmo atual de alta de juros, de um ponto porcentual, deve levar a inflação “perto da meta” no ano que vem. Mas, assim como o diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, não descartou uma mudança no ritmo, considerando que o cenário atual é muito volátil e cheio de incertezas.

“Nós estamos muito confortáveis com o passo que escolhemos. Esse passo, nossas projeções e modelos mostram que chegaremos lá. Vamos levar a inflação para perto da meta no ano que vem. Mas claro que estamos em um cenário ainda de volatilidade e incerteza. Há um trade-off em fazer mais e criar mais volatilidade na economia. Não está fora da mesa. Mas estamos muito confortáveis agora com o passo que escolhemos. Temos muita confiança que nosso passo, nossa ação e nosso ciclo será suficiente”, disse.

Guardado também reforçou que o horizonte relevante de política monetária é móvel e, hoje, abarca 2022 e 2023, mas considerou que isso está sendo interpretado por alguns agentes de mercado como uma “desculpa” para abandonar a meta de 2022.

“O fato de 2023 estar no nosso horizonte relevante não significa que abandonamos 2022. Nem um pouco. Estamos muito focados em 2022, queremos trazer a inflação na meta em 2022”, completou, explicando que uma eventual perda de confiança na ação do BC em trazer a inflação para meta teria custos maiores no longo prazo.

A diretora do BC ainda esclareceu que o BC não vê aumento do grau de inércia, mas avalia que a inércia em 2022 será maior devido à inflação alta em 2021. Ontem, Kanczuk indicou que os efeitos da pandemia poderiam levar a um aumento da inércia dos preços de serviços. Segundo Guardado, parte da projeção de 3,7% do BC para inflação oficial em 2022, acima do centro da meta de 3,5%, reflete a inércia vinda de 2021, que sofre com choques de alimentos, energia e bens.

Ela também disse que o BC espera que o pico da inflação em 12 meses seja setembro (10,25%) ou outubro e depois comece a acomodar. Segundo Guardado, a inflação tem sido bastante persistente, vindo de itens voláteis, e o BC espera um realinhamento da inflação de serviços e bens em algum momento. “Inflação de serviços deve subir mais rumo a 2022, mas é esperado.”

A diretora do BC ainda considerou que há incerteza sobre a normalização dos problemas na cadeia de suprimentos globais e sobre choques em alimentos e energia, mas que o BC atua para retirar a acomodação da política monetária e evitar efeitos de segunda ordem.

Contato: thais.barcellos@estadao.com