Já faz 19 anos que Janguiê Diniz efetivou seu sonho de criar o Grupo Ser Educacional. A rede de ensino é uma das maiores do País, com forte atuação no Nordeste, com valor de mercado na bolsa brasileira em R$ 615 milhões, segundo dados da B3 da quarta-feira (1). Após dificuldades durante a pandemia, o grupo investiu forte em tecnologias para expandir o ensino a distância (EAD) e também crescer por aquisições – nos últimos anos foram compradas duas universidades na região Sudeste, uma em São Paulo (Universidade de Guarulhos) e outra no Rio de Janeiro (Unigranrio). O foco, porém, continua a ser pelo universo on-line. “Vamos expandir para todo o Brasil, mas no momento, somente pelo digital”, disse à DINHEIRO Janguiê Diniz, fundador e presidente do Grupo Ser Educacional.

Entre os investimentos para essa expansão está um novo streaming proprietário da instituição, que deve conter centenas de materiais de diversas áreas acadêmicas. Os alunos terão acesso, por exemplo, a aulas interativas nas dependências de uma das maiores vinícolas do sertão nordestino, conhecendo a produção em detalhes. Ou aulas imersivas dentro de um espaço de animais na Amazônia. O catálogo também reúne produções em várias áreas do conhecimento, com aulas rápidas, tutoriais, central de cases, orientação de carreira, empreendedorismo, exposição de práticas profissionais, entre outras ferramentas. O projeto faz parte do sistema Ubíqua, iniciativa do Ser Educacional que busca transformar a educação com recursos digitais, tecnológicos e acadêmicos.

Mas não é só para o EAD que são direcionados os investimentos em tecnologia. A instituição também comprou a rede social Peixe 30, plataforma direcionada a networking e oportunidades na carreira. Funciona como um LinkedIn com foco em socialização e também é utilizado para a criação de videocurrículos para envio a processos seletivos. A rede ultrapassou os 100 mil usuários em pouco mais de 30 dias, segundo comunicado do grupo, e deve contribuir para o objetivo de “ser a porta para o crescimento e as oportunidades profissionais”, afirmou Diniz. A meta é bater a marca de 1 milhão de usuários até o fim do ano, com o lançamento de mais ferramentas que serão disponibilizadas na rede nos próximos meses, como a de recrutamento e seleção.

Tulio Santos

“Vamos expandir para todo o Brasil, mas no momento, somente pelo digital” Janguiê Diniz Fundador e presidente do grupo Ser Educacional.

INCUBADORA A companhia também deu início no ano passado a uma incubadora digital para apoiar propostas inovadoras de produtos, serviços e modelos de negócio de estudantes de suas instituições. De início, foram selecionados 90 projetos nas áreas de exatas, humanas e saúde. Os alunos terão acesso a mentorias para agilizar a criação e o desenvolvimento das soluções, de forma remota, realizadas por profissionais com ampla atuação no mercado. Na primeira etapa de incubação, os projetos passarão por uma análise de mercado, validação do problema, estruturação do modelo de negócio e construção de protótipo, com a finalidade de ensinar os participantes a resolver problemas reais, fazendo com que eles tenham uma visão geral de empreendedorismo.

As novidades contrastam com um passado recente de extrema dificuldade. O grupo quase quebrou durante a pandemia e os papéis da empresa, que chegaram a R$ 31,90 em janeiro de 2020, caíram para R$ 13,70 em março daquele ano, no pico do isolamento social. E continuam caindo até hoje. Abriram o pregão de quinta-feira (2) a R$ 4,59. Os fortes investimentos em tecnologia e no EAD são uma resposta a esse momento. Para a empresa, a rentabilidade do negócio ficará em algum momento num patamar melhor. Há cursos e graduações com mensalidades com valores mínimos de R$ 50. Para isso, aulas chegam a ter um professor para até 1 mil alunos, o que atrai críticas de especialistas em educação.

Nos três primeiros trimestres de 2022 (último resultado disponível), a companhia teve receitas de R$ 485 milhões, 12,5% cima dos R$ 431 milhões do mesmo período de 2021. Mas o resultado líquido foi negativo em R$ 96,7 milhões, contra R$ 49 milhões positivos de 2021. Parte do resultado pode estar vinculada à redução da oferta do Fies, programa de crédito estudantil. Para isso, o grupo tem recorrido a soluções criadas internamente, como o BUni, primeira fintech do setor de educação superior que busca oferecer soluções financeiras digitais para os estudantes, como financiamento. Mas o Fies ainda é elemento fundamental. “A gente almeja muito que o governo reflita sobre isso, porque financiamento é algo altamente social”, disse Diniz.

Sem dúvida é. E inclusivo. A questão é o que o Fies, em vez de solução, se tornou um problema. Para as instituições de ensino superior, ele é receita. Mas para o Estado, um rombo. No fim do terceiro trimestre de 2022, apenas entre aqueles que estavam com atrasos superiores a 90 dias o valor total da dívida passava dos R$ 35 bilhões. Pior, tornando uma legião de centenas de milhares de estudantes e recém-formados nomes negativados. De toda forma, o governo Lula já sinalizou que é favorável à sua manutenção. São os nós da educação num País que nunca resolveu essa equação.